Internacional
24 Março de 2024 | 10h49

Republicanos usam maioria no Congresso para pressionar Biden

O Congresso dos EUA evitou novamente 'in extremis' uma paralisação do Governo, com a postura da maioria republicana a demonstrar que, em ano eleitoral, a questão da dívida pública servirá para pressionar o Presidente Joe Biden, segundo analistas norte-americanos.


Ao longo da última semana, os líderes dos dois partidos procuraram travar uma rebelião da ala conservadora dos republicanos contra uma proposta de lei orçamental, de cerca de um bilião de euros, para financiar o Governo e evitar uma paralisação das agências federais, o que só conseguiram já em cima do prazo limite, na madrugada de sábado em Lisboa.

Para atingir este fim, os congressistas democratas comprometeram-se com cortes orçamentais e com algumas medidas para controlo de imigração, de forma a agradar à bancada republicana, que tem a maioria na Câmara de Representantes, mas preservando os gastos em defesa.

Contudo, à medida que as horas e os dias foram passando, foi ficando claro que qualquer cedência do lado do Partido Democrata esbarrava contra novas exigências do Partido Republicano, que usa a sua maioria na Câmara de Representantes para bloquear todas as iniciativas vindas da Casa Branca.

"O que está em causa já não são as propostas. Estamos perante um arrojado jogo político, cujo objetivo é pressionar constantemente Biden, em ano eleitoral", explicou à Lusa Gordon Blake, professor de Políticas Públicas do Hunter College, de Nova Iorque, que tem estudado as crises orçamentais no Congresso nas últimas cinco décadas.

"Esta tática política não é nova. Foi experimentada por republicanos e democratas numerosas vezes. Mas, desta vez, noto um radicalismo que torna este jogo particularmente perigoso", admitiu Blake, referindo-se aos congressistas mais conservadores, próximos do ex-presidente Donald Trump, que é recandidato na corrida presidencial de novembro, devendo voltar a enfrentar o democrata Joe Biden.

A lei sobre o orçamento dos EUA, assinada por Biden no sábado, mantém o financiamento até 30 de setembro, quando as eleições presidenciais estão marcadas para 05 de novembro, fazendo antever duras negociações no Congresso em plena campanha eleitoral.

Em declarações ao Politico, o estratego democrata Lewin Gore reconheceu que a tática dos adversários republicanos tenderá a endurecer nos próximos meses, à medida que a campanha eleitoral evolui, usando o Congresso como um palco de luta política privilegiado, graças à maioria na Câmara de Representantes.

Nem sequer o líder da maioria republicana na Câmara, Mike Johnson, parece controlar esta fação mais radical, estando mesmo a ser acusado de estar ao serviço dos democratas, quando se juntou a um projeto bipartidário de apresentação da lei orçamental que conseguiu evitar uma nova paralisação parcial das agências federais, esta sexta-feira.

"O resultado final foi uma rendição completa e absoluta", lamentou o congressista republicano Eric Burlison, do Montana, que acusou Johnson de ser "uma marioneta ao serviço de Biden", pela forma como facilitou a tarefa dos democratas na aprovação do projeto de lei.

Andy Oagles, congressista republicano do Tennessee, alegou que "os democratas são os verdadeiros líderes da Câmara", apelando a uma maior união da bancada republicana para exercer pressão sobre a Casa Branca nos próximos meses.

A congressista da ala mais conservadora do Partido (próxima do ex-presidente Donald Trump) Marjorie Taylor Greene apresentou mesmo uma moção para destituir Johnson, durante a votação do pacote orçamental.

A tática usada pela ala radical dos republicanos já tinha sido usada contra o anterior líder da maioria na Câmara de Representantes, Kevin McCarthy, há apenas cinco meses, quando os conservadores de extrema-direita se revoltaram devido ao seu compromisso com os democratas para evitar uma outra paralisação federal.

O porta-voz do líder republicano, Raj Shah, considera que Johnson está a ser alvo de uma cabala política encetada pelos ultra conservadores, que se recusam a reconhecer o seu esforço por preservar os valores do partido.

Foram precisos seis meses de intensas negociações para se conseguir chegar ao acordo que esta sexta-feira evitou uma paralisação parcial das agências federais, mas os analistas acreditam que isto é apenas o prenúncio de uma estratégia de endurecimento das posições republicanas em véspera de campanha eleitoral para as presidenciais.

Mas os democratas tiveram também de fazer várias cedências na área da defesa e da política externa, para cumprir a agenda política dos republicanos.

"Por detrás destas posições de força está sempre Trump e a sua agenda política. Por isso, foram introduzidas medidas de controlo de imigração nas discussões do Congresso para aprovar este pacote orçamental. Porque a imigração vai voltar a ser bandeira de campanha de Trump", explicou Gordon Blake.