Depois da declaração de abertura por parte da delegação chinesa, um total de 163 países inscreveram-se para usar da palavra, o que deu a cada orador apenas 45 segundos para defender o ponto de vista do respetivo país, algo que mereceu reparos de muitos diplomatas, designadamente ocidentais, mas o que não impediu que Pequim escutasse múltiplas intervenções críticas face ao seu historial recente em matéria de direitos humanos, naquela que foi o quarto exame periódico à China (após as avaliações de 2009, 2013 e 2018).
Além da repressão em Xinjiang e a política de supressão da dissidência em Hong Kong, diversos intervenientes também abordaram aquilo que classificaram como os esforços de Pequim para apagar a identidade cultural e religiosa do povo do Tibete, entre outras alegadas violações dos direitos humanos.
"Condenamos o genocídio e os crimes contra a humanidade em curso em Xinjiang, as violações dos direitos humanos no Tibete, na Mongólia Interior e em toda a China, a erosão do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais em Hong Kong, e a repressão transnacional para silenciar indivíduos no estrangeiro", deplorou por exemplo a delegação dos Estados Unidos.
Depois de já ter estado em foco no exame periódico anterior, há seis anos, a situação em Xinjiang voltou a estar hoje em evidência, com a China a voltar a ser acusada de possíveis crimes contra a humanidade, designadamente face à detenção de mais de um milhão de uigures e outras minorias muçulmanas, algo que Pequim continua a negar veementemente, apesar de já haver provas documentais, incluindo um relatório publicado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos em agosto de 2022.
O relatório em questão menciona possíveis "crimes contra a humanidade", mas, sob intensa pressão chinesa, os membros do Conselho de Direitos Humanos da ONU, entre os quais se encontram também muitos aliados de Pequim, que hoje se fizeram igualmente ouvir, 'chumbaram' a ideia de um debate sobre este documento, algo que pode mudar depois da sessão de hoje.
"Esta é a oportunidade ideal para os países levantarem a questão e exigirem ações concretas para pôr termo ao genocídio em curso", defendeu, em declarações à agência francesa AFP, a presidente do Congresso Mundial Uigure, a ativista Dolkun Isa.
Na sua curta intervenção -- como as demais -, a delegação de Portugal, por seu turno, felicitou a China por ter alterado a Lei sobre a Proteção dos Direitos das Mulheres, de modo a incluir uma definição de discriminação contra as mulheres, deixando três recomendações a Pequim: que ratifique o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos e a Convenção da UNESCO contra a Discriminação na Educação, que adote uma moratória sobre a pena de morte com o objetivo da sua abolição, e que adote legislação que obrigue as empresas a respeitar os direitos humanos, com disposições sobre o direito a um ambiente limpo, saudável e sustentável e regras mais rigorosas sobre condições de trabalho seguras e assédio no local de trabalho.
A China é um dos 14 Estados a serem examinados pelo Grupo de Trabalho da Revisão Periódica Universal durante a sessão que decorre desde segunda-feira e se prolonga até 02 de fevereiro.
O Grupo de Trabalho é composto pelos 47 Estados-membros do Conselho dos Direitos Humanos, mas cada um dos 193 Estados-membros da ONU pode participar num exame de um país.
Fonte: NM