Cultura
05 Janeiro de 2024 | 09h18

Morreu uma personalidade de grande prestígio, que elevou o nome de Angola

O Presidente da República, João Lourenço, manifestou as suas condolências à família, pelo falecimento do músico e nacionalista Rui Mingas, Prémio Nacional de Cultura e Artes em 2015, ocorrido, quinta-feira, em Lisboa, Portugal, aos 84 anos, vítima de doença.

Numa nota a que o Jornal de Angola teve ontem acesso, o Chefe de Estado refere que foi com profundo sentimento de tristeza que tomou conhecimento da triste notícia do falecimento do músico Rui Mingas, "personalidade de grande prestígio que em várias frentes e em diversas funções representou com talento, competência e dignidade o nosso país.”

João Lourenço realça que foi com profunda consternação que recebeu a notícia do falecimento de Rui Mingas, que começou "por elevar o nome de Angola no atletismo profissional em Portugal e, desde cedo, se afirmou como compositor e cantor, como símbolo de resistência contra o poder colonial. Pertencem-lhe vários clássicos da música angolana, entre eles a música do Hino Nacional.”

O Chefe de Estado destaca que na "Angola independente, Rui Mingas exerceu cargos de responsabilidade política, tanto a nível interno como externo, e cívica, tendo sido deputado à Assembleia Nacional, secretário de Estado da Educação Física e Desportos,  Embaixador e Reitor de uma universidade privada. "O seu passamento empobrece o nosso país e deixa de luto a sua família e toda uma vasta legião de amigos e companheiros de trabalho. A todos, em particular à viúva e filhos, expressamos as nossas condolências e os nossos sentimentos de pesar”, ressalta o Presidente da República.

O legado do autor de "Mbiri mbiri”

"A obra de Rui Mingas perdurará na nossa memória colectiva", escreveu Carolina Cerqueira, a Presidente da Assembleia Nacional, reagindo, ontem, à morte do músico, desportista, nacionalista, académico  e diplomata angolano.

Na nota de condolências, Carolina Cerqueira afirmou que Angola perde um bom filho, mas o legado fica nos anais da história e corações dos angolanos.

"A obra de RuI Mingas, como músico incontestável e  um dos autores do Hino Nacional e de músicas como os ‘Meninos do Huambo’, ‘Mbiri Mbiri’ e tantos outros êxitos” vai permancer para sempre na memória colectiva dos angolanos, lê-se na mensagem da líder do Parlamento.

Carolina Cerqueira aponta para a necessidade de os angolanos honrarem Rui Mingas com "liberdade e união, justiça, trabalho e paz e Angola no coração”.

"Rui Mingas, como era carinhosamente tratado, abraçou, desde muito cedo, o sonho por uma Angola livre da opressão colonial. Ele era um homem de múltiplas facetas e cuja trajectória impactou positivamente a vida das angolanas e angolanos enquanto nacionalista, político, diplomata, desportista e, sobretudo, ícone da cultura nacional”, frisou a líder do Parlamento angolano. Da obra discográfica, destacam-se "Cantiga por Luciana”, "Poema da farra”, "Makezu”, "Muadiakimi”, "Mbiri Mbiri”, "Monagambé”, "Pango dya Penha” "Adeus à Hora da Partida” e "Meninos do Huambo”.

Ministro da Cultura destaca as múltiplas valências do músico

O ministro da Cultura e Turismo, Filipe Zau, tomou conhecimento do passamento físico de Ruy Alberto Vieira Dias Mingas com profundo sentimento de tristeza. Filipe Zau considerou Rui Mingas uma "personalidade de múltiplas valências”, por quem tinha grande estima e que sempre pautou por valorizar a angolanidade.

Na nota de condolências, ressalta que Rui Mingas, como era conhecido, nasceu aos 12 de Maio de 1939, foi desportista, intérprete e compositor musical, diplomata, empresário, deputado, ex-secretário de Estado dos Desportos e embaixador de Angola em Portugal.

Poveniente de uma família de músicos, Filipe Zau, também ele músico, recorda que Rui Mingas foi influenciado pelo seu tio Liceu Vieira Dias e, por sua vez, inspirou o seu irmão André Mingas e as suas filhas Katila Mingas e Ângela Mingas.  Recorda ainda que além de ter composto, com o escritor Manuel Rui, o Hino Nacional de Angola, esta parceria também se notabilizou através  da conhecida canção "Meninos do Huambo”, divulgada, em Portugal, através do músico Paulo de Carvalho.

Numa outra nota chegada à Redacção do Jornal de Angola, o ministro das Relações Exteriores, Téte António, sublinha  as qualidades de Rui Mingas como diplomata de carreira e quadro sénior do sector que desempenhou com brio e graprofissionalismo as funções de Embaixador de Angola na República Portuguesa.

"Meninos do Huambo”

Foi com uma profunda consternação e sentimento de pesar que a embaixadora de Angola em Portugal, Maria de Jesus dos Reis Ferreira, diz ter tomado conhecimento do falecimento, ontem, em Portugal, do nacionalista Rui Alberto Vieira Dias Rodrigues Mingas, antigo embaixador da República de Angola na República Portuguesa.

Numa nota de condolências a que o  Jornal de Angola teve acesso, a embaixadora realça que, juntamente com Manuel Rui Monteiro, Rui Mingas foi o autor da letra do Hino Nacional "Angola Avante”. Destaca que foi, também, além de político, deputado no Parlamento angolano, diplomata, poeta e compositor.

A diplomata recorda que  Rui Mingas foi também praticante de atletismo nas décadas de 1950 e 1960, tendo competido no salto em altura e nos 110 metros barreiras, conquistando um recorde nacional de Portugal, em 1960. "O malogrado é um dos autores da canção ‘Meninos do Huambo’”.

Em 1979, Rui Mingas foi  durante dez anos, com a categoria de ministro, secretário  de Estado para a Educação Física e Desportos (SEEFD), sendo o grande responsável pelo período pujante do desenvolvimento do desporto em Angola.

O malogrado foi, ainda, poeta, cantor e compositor, conquistando em 2014 um prémio atribuído pela Sociedade Portuguesa de Autores. Em Portugal, foi também distinguido com o prémio Personalidade Lusófona, entregue pelo Movimento Internacional Lusófono, em 2016.

O rei da música angolana, Elias dya Kimuezo, disse que foi com profunda consternação que recebeu a notícia do falecimento de Ruy Mingas, que deixa a música angolana mais pobre. "Rui Mingas deixou um legado que deve ser melhor aproveitado pelas novas gerações, pelo contributo na renovação estética da canção e na própria história do país”. Para Elias dya Kimuezo, o país perde um dos seus melhores filhos, aquele que emprestou de forma sublime a sua voz e dedicação à música angolana.

 O modernismo

O músico Dom Caetano considerou que o país viu partir, ontem,  um dos seus melhores compositores. "Rui Mingas  faz parte das lides da modernização da música angolana, por isso, com toda a vénia, curvo-me perante a sua memória.”

Segundo Dom Caetano, Rui Mingas, além de ter sido um homem de cultura, que se encarregou de musicalizar o Hino Nacional de Angola,  "pertence a uma classe de músicos dos mais inquestionáveis do país. A notícia da sua morte foi muito triste para a Nação”, disse o autor de "Som angolano”.

O músico Manuel Claudino "Manelito disse que Rui Mingas deixa um legado indiscutível. "Perdemos um grande autor, um compositor de mão cheia e um intérprete de dimensão internacional.”

Manelito sublinha que o país perde "uma voz brilhante,  que elevou bem alto a marca da angolanidade no antes e no pós independência”.



Diplomata foi um exemplo  de determinação e sabedoria

O músico e compositor Rui Mingas foi distinguido com o Prémio Nacional de Cultura e Artes em 2015, segundo anunciou o presidente do  júri na época, António Fonseca, argumentando que a veia poética e musical que encerra a obra do compositor e cantor permite distinguir modelos melódicos com uma gama de esteticidade, cujos desenlaces contribuem para um processo substantivo de maturação musical.

O júri avançou que o eleito é detentor de uma musicalidade excepcional e expressa na sua música a angolanidade incontornável de educação estética e cultural, no qual o Hino Nacional de Angola se constitui num símbolo de unidade nacional. Rui Alberto Vieira Dias Mingas  nasceu a 12 de Maio de 1939, tendo-se distinguido, na sua juventude, no atletismo, particularmente no salto em altura e nos 110 metros barreiras em Angola e Portugal.

A história do "Angola Avante”

Manuel Rui Monteiro e Rui Mingas tiveram apenas dois dias para trabalhar no Hino. O primeiro para o escrever e o segundo para o compor. Numa recente entrevista à Angop, o escritor e co-autor do Hino Nacional Manuel Rui Monteiro lembrou que tudo se passou sob  muita pressão. "Era necessário fazer o Hino, e com esta missão fomos chamados, eu e o Rui Mingas, para tratarmos do Hino de Angola Independente. É assim que tive a incumbência de tratar da letra e o Rui Mingas da composição. Pensamos em algo que tinha que nos identificar, que tinha que marcar a identidade angolana, o patriotismo de quem sofreu durante muitos anos para ver o país livre do colonialismo português”, lembrou.

O autor de "Quem me dera ser onda” disse ainda que o Hino foi escrito numa circunstância de guerra, de muita pressão e ansiedade. "Tivemos dois dias para escrever e musicar o Hino Nacional”, frisou.

"Fico muito feliz por saber que pertence ao povo, que, apesar de ser o autor da letra, apenas dei o meu contributo para uma criação colectiva. É um sentimento de identidade, é um sentimento de patriotismo e de cidadania”, disse.

Fonte: JA