Economia
14 Dezembro de 2023 | 17h18

Construção de infra-estruturas define desenvolvimento turístico - diz especialista

O desenvolvimento do turismo em Angola passa, necessariamente, pela construção de infra-estruturas básicas relacionadas com as estradas, telecomunicações, hospitais, bem como a instalação de sistemas de distribuição de água e electricidade, destaca a investigadora angolana Amélia Cazalma.

Na sua obra científica, intitulada ‘O Contributo do Desenvolvimento Sustentável do Turismo nas Aéreas Transfronteiriças de Conservação, para a Inclusão das Comunidades e Promoção da Paz’, a especialista em Turismo, Lazer e Cultura aponta, igualmente, o melhoramento do sistema de concessão de vistos a cidadãos estrangeiros como factor imperativo para facilitar a entrada de turistas no país.

Nesse particular, os cidadãos de 98 países do mundo, com destaque para Cabo Verde, Marrocos, Guiné Equatorial, Botswana, Ruanda, Portugal, Brasil, Estados Unidos da América, Rússia e China, já podem usufruir da isenção de vistos de turismo, com permanência até 30 dias por entrada e até 90 dias por ano. Esta medida consta do Decreto Presidencial n.º 189/23 publicado em Diário da República, em Outubro último.

Ainda a propósito do livro de Amélia Cazalma, a autora refere que, actualmente, o turismo representa 10 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, tendo atingido, em 2014, um ‘recorde histórico de 1.113 milhões de turistas’, com um crescimento anual de 4,4 por cento.

Acrescenta que o crescimento mundial de turistas passou de 25 milhões, em 1950, para 277 milhões (1980) e 940 milhões (2010), o que corresponde a uma taxa de crescimento médio anual de 6,2 por cento.

Ao mesmo tempo, a também docente universitária sublinha que o sector turístico contribuiu, mundialmente, com um total de um bilião e meio de dólares em exportações globais, representando uma média de quatro mil milhões por dia.

Ao nível da Comunidade dos Países da África Austral (SADC), refere que a contribuição do turismo para o seu PIB subiu de 3.7 por cento, em 1999, para 5.8, em 2009, acrescentando que o sector criou, nesta região, cerca de 1.25 milhão de postos de trabalho directos, em 1999, e 1.92 milhão, em 2010.

No livro, a especialista considera a indústria do turismo como a principal fonte de receitas turísticas, em divisas, tendo subido de 4.483 milhões de dólares norte-americanos (2000) para 12.756 milhões (2009).

A autora faz ainda alusão ao impacto do turismo enquanto sector com grande capacidade de resiliência, apesar dos muitos problemas que o planeta vive, nomeadamente as tensões geopolíticas, as catástrofes naturais provocadas pelo próprio ser humano, a crise dos refugiados e a desigualdade na recuperação económica global.

O livro, que comporta 700 páginas, faz uma abordagem crítica sobre o contributo do turismo para o desenvolvimento regional e para a paz nas áreas transfronteiriças de conservação da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), com enfoque na Área Transfronteiriça de Conservação do Okavango/Zambeze (ATFC-KAZA).

Para além de ser doutorada em Turismo, Lazer e Cultura, pela Universidade de Coimbra (Portugal), Amélia Carlos Cazalma também é PhD em Ciências de Educação, pela Universidade de Granada (Espanha). Actualmente está preparar a terceira tese de doutoramento, em Medicina Integrativa, na África do Sul.

A par da docência, a especialista já foi directora nacional de Formação em Hotelaria e Turismo, concebeu a Estratégia Nacional de Formação em Hotelaria e Turismo de Angola, para o período de 1996-2000 e 2010-2015, assim como ocupou o cargo de coordenadora da componente angolana da ATFC-KAZA, além de ser consultora do ministro de Hotelaria e Turismo, de 1996 a 2017.

Projecto ATFC-KAZA

A Área Transfronteiriça de Conservação do Okavango/Zambeze (ATFC-KAZA) é um projecto que abrange uma zona de aproximadamente 520 mil quilómetros quadrados. Desta área, Angola detém a segunda maior parcela, com 90 mil quilómetros quadrados, superada pela Zâmbia, com 97 mil, enquanto as restantes 98 mil quilómetros pertencem ao Zimbabwe, Botswana e Namíbia - este último com a menor parcela territorial.

Em Angola, a ATFC-KAZA está situada na província do Cuando Cubango, abrangendo os municípios do Cuito Cuanavale, Dirico, Mavinga e Rivungo, onde estão localizados os parques nacionais de Mavinga e Luengue-Luiana.

A ATFC-KAZA tem como objectivo impulsionar a criação de uma colaboração transnacional, a cooperação entre os Estados- membros da SADC, promover alianças na gestão de recursos biológicos e culturais, encorajar a cooperação social e económica.

Essa área inclui, do lado angolano, os parques nacionais de Luengue-Luiana e Mavinga, que se interligam com várias atracções turísticas dos outros países integrantes, como as quedas de Victória Falls (Zimbabwe), Delta do Okavango (Botswana), parque do Bwabwata (Namíbia) e parque do Kafue na Zâmbia.

O programa é o maior destino eco-turístico a nível mundial, ligando 36 áreas de conservação dos cinco países, tem a maior reserva de água doce do universo, a maior população contígua de elefante africano, mais de 200 mil, mais de 600 espécies de aves, 128 de répteis, 50 de anfíbios e diversos tipos de invertebrados, bem como várias tipologias de animais em vias de extinção. QCB/AC

Huíla: Zona turística da Fenda da Tundavala © Fotografia por: Morais Silva (Angop)

Fonte: Angop