Economia
21 Novembro de 2023 | 20h18

Gás angolano chega a mais de 25 países

Trinta países importam e consomem o Gás Natural Liquefeito (LNG, sigla inglesa) angolano, produzido pela fábrica Angola LNG, num universo de cerca de 20 países que produzem e exportam esta commodity no mundo.

Para além de fazer parte desta pequena lista de países produtores e exportadores do gás natural, a Angola LNG, com uma capacidade instalada para produzir 5,2 milhões de toneladas métricas por ano, representa mais de 1% da produção mundial.

Ou seja, dos cerca de 400 milhões de toneladas de gás produzidas por esses países, em 2022, por exemplo, Angola contribuiu com mais de 1% da sua produção, exportado para mais de 25 nações, num conjunto de cerca de 47 países importadores deste produto no mundo.

O país marca a sua presença no mapa mundial, com um peso significativo na produção do LNG, como confirma o CEO da Angola LNG Marketing Ltd (empresa sediada em Londres, Inglaterra), Ângelo Paz.

Em exclusivo à ANGOP, o responsável apontou a Índia (Ásia) e vários países europeus como os principais destinos das exportações angolanas, que cada vez mais ganham terreno no velho continente, em função da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

Antes do conflito, recordou, a maior parte da produção angolana era enviada para a Índia, uma realidade que teve de ser redireccionada para o mercado da Europa, em função da escassez de gás registada nos países deste continente.

Fruto disso, destacou, em Junho último, a Angola LNG atingiu um marco histórico, ao alcançar o carregamento número 400, desde a entrada em operação da sua fábrica, em 2013.

De acordo com Ângelo Paz, os navios (sete embarcações) da empresa têm uma capacidade para exportar 160 mil metros cúbicos de LNG por cada carregamento, sendo que o carregamento 400 representa um marco registado no período de 2013 a 2023.

Conforme o CEO da Angola LNG Marketing, que não divulgou o volume do produto importado e da facturação resultante das exportações, a empresa teve de expandir ou redireccionar as suas vendas para o mercado europeu, em consequência do conflito entre a Rússia e a Ucrânia.

A Angola LNG, disse, deixou de exportar, maioritariamente, o seu produto apenas para a Índia (Ásia), como era anteriormente, para responder a demanda do mercado europeu, que nos últimos anos tem enfrentado a escassez deste produto, em função do actual contexto geopolítico mundial.

"A guerra entre a Rússia e a Ucrânia provocou um aumento na procura do gás no mercado europeu, facto que obrigou a empresa a mudar o padrão normal das suas exportações, que, inicialmente, tinham como principal destino a Índia. Actualmente, grande parte dos carregamentos do gás angolano é enviada para a Europa, com vista a responder à demanda neste mercado”, clarificou.

Segundo o CEO, esse feito enquadra-se no compromisso da empresa ser o fornecedor de energia limpa e fiável para diversos países do mundo, demonstrando o peso e a importância da marca Angola LNG no mercado mundial.

Paralelamente, Ângelo Paz aponta a produção do gás angolano como uma forma do país contribuir directamente para o processo de transição energética mundial, fornecendo uma energia limpa associada à produção petrolífera.

No domínio interno, além de ser um dos cerca dos 20 países do mundo produtor e exportador de Gás Natural Liquefeito, Angola LNG também é principal fornecedor de gás da Central do Ciclo Combinado do Soyo, que tem a missão de transformar este produto em energia eléctrica, que já integrada no sistema da rede nacional da região Norte e Centro do país.

A partir da produção do LNG, a unidade fabril extrai, igualmente, outros subprodutos líquidos, como o butano, propano e os condensados, que são comercializados, exclusivamente, aos accionistas da empresa, para abastecer o mercado nacional.

Ou seja, o Gás Natural Liquefeito é exportado para vários países do mundo, enquanto os subprodutos são exclusivos para o mercado interno, segundo o CEO.

"No processo de liquefação ou processamento de gás natural, temos vários componentes, como o butano, propano, os condensados e o metano, sendo este último o mais leve do conjunto, constituindo-se no principal produto de exportação do Angola LNG”, explicou.

Angola mantém auto-suficiência na produção do butano

A Angola LNG é a responsável pela produção do butano pressurizado (gás de cozinha), um dos subprodutos que resulta do processamento deste gás natural.

Nesse quesito, a petrolífera atingiu o carregamento número 100 de butano pressurizado, no dia 8 deste mês (Novembro), o que representou um marco relevante para o país, que tornou-se auto-suficiente deste produto em 2017. Em média, cada carregamento do butano ronda entre 40 e 44 mil toneladas.

De acordo com a fonte, essa produção é, exclusivamente, entregue à Sonangol (Sonagás), no âmbito do contrato de investimento existente entre os respectivos accionistas, com vista a satisfazer somente as necessidades do mercado nacional.

Segundo o presidente da Angola LNG Marketing, a fábrica disponibiliza 125 milhões de pés cúbicos de gás/ano à Sonangol, que faz a distribuição deste produto a nível nacional.

"Ao abrigo dos acordos entre os sócios da empresa, a Sonangol tem o direito de levantar todo butano produzido pela fábrica, tendo em conta as necessidades do mercado nacional”, reforçou.

Para manter a produção desses produtos, a fábrica depende da matéria-prima de quase todos os campos petrolíferos do offshore angolano, como os blocos 0, 14, 15, 17, 18, 31 e 32.

Contudo, o responsável assegura que o estado funcional da fábrica continua estável, mantendo a sua capacidade instalada de 5,2 milhões de toneladas de gás/ano, dependendo sempre da matéria-prima disponibilizada pelos blocos petrolíferos.

Impacto da empresa Angola LNG nas populações locais 

No âmbito das acções sociais, essa empresa já investiu, desde 2013 até à presente data, cerca de 590 milhões de dólares norte-americanos em programas ambientais e sociais na província do Zaire, região Norte do país onde está implantada a fábrica do LNG, como confirmou Ângelo Paz.

Entre as acções quantificáveis realizadas, o presidente de marketing destacou o investimento feito na construção de um edifício polivalente, com biblioteca, laboratórios, 12 novas salas de aula e instalações desportivas e lúdicas para mais de mil e 200 crianças na Escola do Bairro da Marinha, no município do Soyo.

De acordo com os dados da fonte, o investimento incluiu também a construção de estradas e pontes locais, uma nova central eléctrica, a modernização das infra-estruturas do aeroporto, habitação social, expansão do Hospital Municipal do Soyo, em colaboração com as autoridades locais e parceiros, para além do desenvolvimento de programas de formação à população local.

Quanto ao Hospital Municipal do Soyo, que foi reabilitado e ampliado, o CEO assegurou que Angola LNG vai apoiar o seu apetrechamento, em função da solicitação feita pelas autoridades locais.

No domínio ambiental, constam das acções uma vasta gama de projectos que protegem e melhoram os ecossistemas indígenas, por meio de programas de restauração de mangais, protecção das tartarugas marinhas e da Palanca Negra Gigante.

Ainda nesse sector, as operações da Angola LNG primam pelo melhoramento da qualidade do ar, através da eliminação da queima de gás e da redução das emissões e dos gases com efeito de estufa.

Projecto em carteira

No âmbito da sua expansão, a Angola LNG prevê a implementação do Projecto "Sanha Lean Gas Connection”, que irá recolher e enviar gás adicional para as modernas instalações de processamento desta empresa, com o primeiro gás previsto para 2024.

Estão também a ser negociados, entre as várias partes interessadas, novos projectos de desenvolvimento de Gás Não Associado (NAG), enquanto componente do processo global de planeamento do abastecimento de gás à Angola LNG.

Com isso, espera-se que estes fornecimentos ocorram em 2026.

O Projecto Sanha Lean Gas Connection Projecto resulta de uma parceria entre a Sonangol Gás e Energias Renováveis, S.A., Cabinda Gulf Oil Company, TotalEnergies, Azule Energy Angola Production B.V. e Azule Energy Exploration (Angola) Ltd.

Esse Projecto tem como objectivo recolher e processar o gás, prevendo cerca de 80 carregamentos anuais, através da sua frota de sete navios para a exportação.

Com um capital inicial de 12 mil milhões de dólares, o projecto Angola LNG, desenvolvido para criar valor a partir de recursos de gás offshore, é um dos maiores investimentos de sempre na indústria angolana de petróleo e gás.

A fase inicial da construção do projecto permitiu a criação de mais de sete mil postos de trabalho, sendo, actualmente, contar com pelo menos 500 colaboradores.  

Localizada a 400 quilómetros a Norte de Luanda, na foz do rio Zaire, município do Soyo, a unidade fabril é o primeiro projecto privado do mundo que trabalha com gás associado, resultante da exploração de petróleo em alto mar, que anteriormente era queimado na atmosfera.

Fazem parte da estrutura accionista dessa fábrica a Chevron, com uma participação de 36,4%, Azule Energy (27,2%), Sonangol (22,8%), e a TotalEnergies, com 13,6% das acções.

A Angola LNG surge com a missão de responder a necessidade da eliminação da queima de gás associado, proveniente das operações petrolíferas, no offshore angolano, tornando este produto como uma commodity para o mercado mundial.