Economia
27 Outubro de 2023 | 09h08

Angola assina em Bruxelas Memorando de Entendimento para desenvolvimento do “Corredor do Lobito”

Na sequência da Cimeira do G20, ocorrida em Nova Deli, no passado mês de Setembro, e do compromisso assumido para estabelecer a Parceria em Infra-estruturas e Investimentos Globais (PGII), a União Europeia - representada pela comissária Jutta Urpilainen -, Estados Unidos, RDC, República da Zâmbia, a República de Angola, Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e Africa Finance Corporation assinaram, ontem, em Bruxelas (Bélgica), um Memorando de Entendimento com o objectivo de apoiar o desenvolvimento do “Corredor do Lobito”.

O ministro de Estado para a Coordenação Económica, José de Lima Massano, assinou o documento em nome de Angola. A informação consta de uma nota de imprensa divulgada, ontem, pelo Ministério dos Transportes.

Durante a assinatura do Memorando de Entendimento, indica o documento, ficou definido que  a parceria deve  basear-se  na mobilização e alocação de recursos financeiros e de conhecimentos técnicos para acelerar o  desenvolvimento do "Corredor do Lobito”, incluindo investimentos na digitalização dos processos e na dinamização das cadeias de valor agrícolas para aumentar a competitividade regional.

A cooperação,  assegura ainda a nota do Ministério dos Transportes,  centrar-se-á em três áreas distintas: investimentos em infra-estruturas de transporte; medidas para facilitar o comércio, desenvolvimento económico e o trânsito; e apoio aos sectores directamente relacionados para fomentar o crescimento económico inclusivo e sustentável além do investimento de capital nos três países africanos a longo prazo.

De acordo ainda com o documento, quando estiver totalmente operacional,  o "Corredor do Lobito” vai aumentar as possibilidades de exportação para a Zâmbia, Angola e RDC, além de impulsionar a circulação de mercadorias e promover a mobilidade dos cidadãos e contribuir para aumentar e valorizar as trocas comerciais intra-africanas.

Esta linha de análise é também defendida pelo economista Paulo dos Santos, para quem Angola e o seus vizinhos dão mais um passo na materialização da Zona Livre de Comércio da sub-região da SADC.

No passado dia 4 de Julho se realizou na cidade portuária do Lobito,  província de Benguela, uma cerimónia promovida pela Administração Municipal para assinalar o início da transferência da concessão dos serviços ferroviários e de apoio logístico  do Corredor à "Lobito Atlantic Railway”, empresa que assumiu a operação, gestão e manutenção da infra-estrutura ferroviária de transporte de mercadorias para o Corredor.  A cerimónia contou com as presenças dos  Presidentes de Angola, João Lourenço, da República Democrática do Congo (RDC), Félix Tshisekedi Tshilombo,  e da Zâmbia, Hakainde Hichilema.

Do lobito a Moçambique

O Corredor do Lobito faz parte de uma rede  ferroviária transcontinental com uma extensão de 1.866 quilómetros, 1.344 dos quais dentro de Angola – entre Lobito e Luau - dando acesso à parte mais interior do país e da RDC. Em Tenque  à encontra-se ligado aos sistemas ferroviários da RDC, mais propriamente ao Dilolo e até à Zâmbia, através deste último chega às cidades da Beira (Moçambique) e de a Dar-es-Salaam (Tanzânia), dois países virados para o Oceano Índico.

A engrenagem financeira

Desde a sua construção, entre 1902 e 1929, o Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB) teve como principal objectivo escoar o cobre extraído das minas da RDC e da Zâmbia e as mercadorias produzidas ao longo do seu percurso em Angola, até ao porto do Lobito, para exportação via Oceano Atlântico. Dado o estado obsoleto que atingiu após a guerra civil, o CFB foi obrigado, recentemente, a ser reabilitado  por via de financiamento chinês, com novos carris e novas estações de passageiros e o reapetrechamento com novas locomotivas e vagões de passageiros e mercadorias.

O Corredor do Lobito constitui o Projecto nº 9 da União Africana para transportes, integrado na ZCLCA-Zona de Comercio Livre do Continente Africano, ligando as cidades do Lobito e da Beira, em Moçambique, sendo um elo de integração regional da SADC.

Esse memorando no âmbito da PGII, que envolve países do G7, o BAD, a AFC e os países africanos por onde passa o  Corredor do Lobito, nomeadamente Angola, RDC, e Zâmbia, para apoiar o desenvolvimento dessa infra-estrutura ferroviária internacional, parece-me ser a engrenagem financeira para se materializar o contrato de privatização assinado no Lobito em Julho deste ano. Assim sendo, Angola e os seus vizinhos dão mais um passo na materialização da Zona Livre de Comércio Africano, na sub-região da SADC.

Fonte: JA