Durante a assinatura do Memorando de Entendimento, indica o documento, ficou definido que a parceria deve basear-se na mobilização e alocação de recursos financeiros e de conhecimentos técnicos para acelerar o desenvolvimento do "Corredor do Lobito”, incluindo investimentos na digitalização dos processos e na dinamização das cadeias de valor agrícolas para aumentar a competitividade regional.
A cooperação, assegura ainda a nota do Ministério dos Transportes, centrar-se-á em três áreas distintas: investimentos em infra-estruturas de transporte; medidas para facilitar o comércio, desenvolvimento económico e o trânsito; e apoio aos sectores directamente relacionados para fomentar o crescimento económico inclusivo e sustentável além do investimento de capital nos três países africanos a longo prazo.
De acordo ainda com o documento, quando estiver totalmente operacional, o "Corredor do Lobito” vai aumentar as possibilidades de exportação para a Zâmbia, Angola e RDC, além de impulsionar a circulação de mercadorias e promover a mobilidade dos cidadãos e contribuir para aumentar e valorizar as trocas comerciais intra-africanas.
Esta linha de análise é também defendida pelo economista Paulo dos Santos, para quem Angola e o seus vizinhos dão mais um passo na materialização da Zona Livre de Comércio da sub-região da SADC.
No
passado dia 4 de Julho se realizou na cidade portuária do Lobito, província de Benguela, uma cerimónia
promovida pela Administração Municipal para assinalar o início da transferência
da concessão dos serviços ferroviários e de apoio logístico do Corredor à "Lobito Atlantic Railway”,
empresa que assumiu a operação, gestão e manutenção da infra-estrutura
ferroviária de transporte de mercadorias para o Corredor. A cerimónia contou com as presenças dos Presidentes de Angola, João Lourenço, da República
Democrática do Congo (RDC), Félix Tshisekedi Tshilombo, e da Zâmbia, Hakainde Hichilema.
Do lobito a Moçambique
O Corredor do Lobito faz parte de uma rede ferroviária transcontinental com uma extensão de 1.866 quilómetros, 1.344 dos quais dentro de Angola – entre Lobito e Luau - dando acesso à parte mais interior do país e da RDC. Em Tenque à encontra-se ligado aos sistemas ferroviários da RDC, mais propriamente ao Dilolo e até à Zâmbia, através deste último chega às cidades da Beira (Moçambique) e de a Dar-es-Salaam (Tanzânia), dois países virados para o Oceano Índico.
A engrenagem financeira
Desde a sua construção, entre 1902 e 1929, o Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB) teve como principal objectivo escoar o cobre extraído das minas da RDC e da Zâmbia e as mercadorias produzidas ao longo do seu percurso em Angola, até ao porto do Lobito, para exportação via Oceano Atlântico. Dado o estado obsoleto que atingiu após a guerra civil, o CFB foi obrigado, recentemente, a ser reabilitado por via de financiamento chinês, com novos carris e novas estações de passageiros e o reapetrechamento com novas locomotivas e vagões de passageiros e mercadorias.
O Corredor do Lobito constitui o Projecto nº 9 da União Africana para transportes, integrado na ZCLCA-Zona de Comercio Livre do Continente Africano, ligando as cidades do Lobito e da Beira, em Moçambique, sendo um elo de integração regional da SADC.
Esse memorando no âmbito da PGII, que envolve países do G7, o BAD, a AFC e os países africanos por onde passa o Corredor do Lobito, nomeadamente Angola, RDC, e Zâmbia, para apoiar o desenvolvimento dessa infra-estrutura ferroviária internacional, parece-me ser a engrenagem financeira para se materializar o contrato de privatização assinado no Lobito em Julho deste ano. Assim sendo, Angola e os seus vizinhos dão mais um passo na materialização da Zona Livre de Comércio Africano, na sub-região da SADC.
Fonte: JA