Cultura
25 Outubro de 2023 | 15h04

Vindjomba almeja a internacionalização das danças tradicionais dos nyaneka-humbi

O nome “vindjomba”, que na língua nativa nyaneka-humbi quer dizer dançar, dá origem a outra palavra semelhante, “ovindjomba”, que é a dança. Foi exactamente esse o nome escolhido para baptizar um grupo que tem manifestado, por via da dança, a perenidade da riqueza ancestral da cultura deste povo do Sul de Angola.

Toda a história começa há sensivelmente quatro anos, quando a médica Nádia Camate, num gesto desinteressado, procurou presentear um amigo residente em Luanda, curiosamente no dia do seu enlace matrimonial. Foi sobretudo dessa ideia "original” que nasce o grupo.

"Na verdade, a ideia surgiu da necessidade de dar um presente a um amigo do Lubango que reside em Luanda. Ele ia se casar e eu queria algo diferente para presentear esse momento ímpar na vida do casal. Até porque sabia que vinham famílias da Huíla e seria a cereja no topo do bolo, transportar hábitos e costumes dos nyaneka durante a cerimónia”, recordou Nádia Camate em entrevista ao Jornal Cultura, título da Edições Novembro.

Segura e obstinada, conseguiu reunir algumas mais velhas, dois batuqueiros, comprou uns tecidos, mas na altura não tinha batuque e por isso foi pedir ao Frei Marmeliano, afecto à Igreja do Carmo, que emprestasse o do grupo coral. O batuque foi forrado com tecido e acresceu mais um bidão amarelo de 25 litros para servir de contrabaixo. "E assim foi. O casamento correu muito bem, o noivo ficou muito agradado e, desde essa altura, não parámos mais”, partilhou a interlocutora, que demarca a actuação no casamento do amigo José Pedro como a primeira aparição pública. Volvidos mais de três anos, o grupo é constituído por dois percussionistas,seis dançarinas/vocalistas e uma directora artística, papel assumido por Nádia Camate. Para além da dança ovindjamba, que é a mais solicitada ao grupo nas suas apresentações, o seu repertório inclui, entre outras, as danças de festas de iniciação masculina (ekuendje) e feminina ( efiko), panga panga e kanunga. Quanto à linha de pesquisa que sustenta as coreografias, aponta como primeira fonte as bibliotecas vivas, reunindo conhecimento do que ouve dos mais velhos. Por outro lado, também fez recurso ao trabalho de dois estudiosos da cultura humbi, concretamente um angolano e uma italiana, a etnóloga Nina Bart, que se interessaram bastante pelo estudo da arte bantu, sobretudo no campo da música e da dança. Nádia Camate lamentou a falta de estudos publicados que possam garantir a preservação das danças tradicionais. Apontou que existe pouca informação documentada como tal, apesar do país possuir um mosaico cultural muito rico, que espera merecer dos pesquisadores, estudiosos da cultura, centros universitários, a devida atenção na produção de trabalhos aturados e detalhados. "Nos guiamos pela transmissão oral dos antepassados. Quantas vezes não ligo para a minha mãe para dissipar dúvidas nos passos e na forma de vestir e estar numa determinada coreografia? E na cultura nyaneka até o penteado muda conforme a ocasião, obedecendo a diferentes formas no mufiko (rapariga na puberdade), se for viúva, se vai casar ou se é criança. E não podemos ignorar essas nuances, que podem somente parecer pormenores sem importância, mas que marcam toda a diferença”, sublinhou.

O processo das coreografias do Vindjomba são baseadas nas diversas festas populares de acordo às tradições nativas, fazemos sempre uma pesquisa usando as narrativas dos povos autóctones. A interlocutora admitiu a felicidade do grupo ser só constituído por pessoas oriundas da cultura nyaneka-humbi, o que facilita na montagem das coreografias.

Fonte: JA