Cultura
04 Outubro de 2023 | 16h21

Contagem decrescente para a gala mais importante da música angolana

Faltam três dias para o país conhecer o vencedor do Top dos Mais Queridos, edição 2023, a ser anunciado na gala de consagração esta sexta-feira, na Tenda do Centro de Conferências de Belas, em Luanda.

Aníbal da Costa, porta-voz da organização, reiterou que todas as condições estão criadas para o momento final do concurso, que considera ser o mais importante da música nacional.

São esperados perto de 3000 espectadores para a noite do desfile dos concorrentes das 18 províncias do país e do homenageado, com o suporte instrumental da Banda Movimento e a coreografia de um grupo de bailados.

Está agendado um after-party depois do concerto e os ingressos de acesso estão a ser comercializados na Portaria da Rádio Nacional de Angola a 10.000 kwanzas.

Ontem, durante uma passagem nos ensaios, que estão a decorrer no auditório Rui Duarte de Carvalho, Aníbal da Costa falou do processo que culminará com a eleição do Mais Querido entre os artistas em representação das 18 províncias do país, que concorrem nesta edição em que Sam Mangwana é o homenageado, no concurso promovido pela Radiodifusão Nacional de Angola.

"Estamos na contagem decrescente e chamamos a atenção que a data mais importante da canção angolana está a chegar, com o Top dos Mais Queridos, o concurso mais importante da música angolana. Estamos desde Abril e o balanço é positivo, porque já faz parte da nossa rotina, mas sempre é um desafio da exaltação da música e cultura angolanas”.

Aníbal da Costa defende que este desafio tem sido o contributo anual do grupo RNA. "A história já demonstrou que estamos capacitados para avançar com desafios desta natureza e então já se tornou um habitué na Rádio Nacional de Angola. Há vários anos que, além das actividades diárias dos jornalistas, técnicos e pessoal administrativo, temos também este desafio que é o da exaltação da cultura nacional. Estamos aqui no exercício de contribuição aos grandes valores musicais e culturais que Angola tem”.

Como exemplo deu os temas gravados em todo o país para o Top dos Mais Queridos. "Tivemos um registo de 1500 músicas só neste concurso e grande parte tem sido tocada na Rádio Cultura e outras estações do grupo RNA e este é um ganho e mais um contributo nesta edição. E as 18 músicas continuarão a tocar depois da final, assim como os artistas ficarão mais expostos”.

"Estamos numa fase de inovação, a seguir em frente e a evoluir para melhor, a experiência que temos desde que acompanhámos este exercício é de um movimento cultural que efectivamente engaja toda a população. Mesmo aqueles que só ouvem, os que votam e os fãs que vão atrás, portanto, há um engajamento quase nacional e agora global em volta deste Top dos Mais Queridos”.

Quanto às percentagens do escrutínio, o nosso interlocutor optou por falar das formas de votação que são por Internet, SMS e nos programas de entretenimento emitidos nos canais do grupo. "A Internet é o meio mais usado, principalmente nas grandes cidades como Luanda, Huambo, Benguela e Huíla, nas mais pequenas participam nos programas de entretenimento e enviam mensagens, mas também temos votos do exterior pela internet”.

Aníbal Costa recordou uma parceria antiga, lembrando a altura em que os cupões de votos eram publicados no Jornal de Angola e "eram muito procurados, mas estamos a avançar para as novas tecnologias. As pessoas têm a possibilidade de votar mais do que uma vez, mas não no mesmo dia, porque o sistema identifica o IP e fica bloqueado para estas 24 horas. É a mais viável no momento e depois as estatísticas são melhor organizadas quando se tem este sistema, que foi desenvolvido por técnicos da Rádio Nacional”.

O Top dos Mais Queridos não está isento de polémicas e o caso da popularidade do Dj Loló, autor do sucesso "Liamba”, serviu como exemplo. "Estas polémicas nos fazem crescer, nos fazem transportar a nossa imaginação e a criatividade para outros patamares, mas esta questão de Benguela não foi da Rádio nem dos jornalistas locais, mas da escolha popular, porque a música pode ser popular, tocar em todas as festas, mas se os ouvintes que são os decisores principais não votarem, a música não passa e não é vencedora. Portanto, o Arsénio Cândido venceu porque os ouvintes votaram mais nele, apesar da música do DJ Loló ser muito popular e este é o critério da Rádio Nacional de Angola que não escolhe, mas sim obrigatoriamente do ouvinte que vota”.

Outra questão por nós levantada foi em relação a Matias Damásio, o representante de Luanda, a principal montra e centro de concentração dos artistas nacionais. "O que acontece é que há muitos músicos que, apesar de não estarem a viver habitualmente em Luanda, em algum momento tiveram a sua residência aqui e o regulamento permite que estes que estejam nesta posição possam participar. O Matias Damásio foi o artista mais votado no Top dos Mais Queridos de Luanda”.

Respondendo a uma inquietação levantada em relação ao autor de "Magui”, Aníbal Costa continuou dizendo que "apesar dele não estar a viver habitualmente em Luanda, a base da sua residência é em Luanda, de onde sai para passar uma temporada fora, que é intermitente e não é permanente. Senão, teríamos Matias Damásio residente em Portugal, que não é o caso, porque ele está muitas vezes em Luanda, apesar dele ter nascido em Benguela. Portanto, estes tipos de polémicas são importantes e nós vamos procurar refinar todas estas dúvidas que vão surgindo à volta destes grandes eventos”.

Os artistas, esclareceu, podem também optar pela província de nascimento ou de residência habitual para concorrer, pois "um músico de outra província que esteja a viver em Luanda pode concorrer pela província de origem”, disse, acrescentando que "nós fizemos cerca de 22 encontros onde se discutiu este novo formato e chegamos a estas conclusões”.

O carácter mais nacional do concurso é um dos grandes ganhos deste formato, de acordo com o porta-voz da organização. "No formato anterior corríamos o risco de falhar e a maior parte dos cantores vivia em Luanda”.

O porta-voz respondeu a críticas de artistas consagrados que dizem que os concorrentes são desconhecidos, afirmando que "a Rádio Nacional não olha para artistas do ponto de vista individual. Nós estamos para a cultura nacional e houve um tempo que estes artistas também não eram conhecidos e ninguém sabia onde eles estavam. Em algum momento das nossas vidas somos desconhecidos e depois passamos a ser conhecidos, por isso a RNA olha os candidatos do mesmo modo. O Mais Querido será o mais votado pela população e nós respeitamos o percurso artístico de todos os concorrentes”.

Aníbal Costa justificou a homenagem a Sam Mangwana. "Quando a organização apresentou nomes de possíveis homenageados ao olharmos para os critérios, a decisão foi unânime, porque é um gigante da música nacional e africana. Sam Mangwana faz 60 anos de carreira, que arrancou no dia 10 de Outubro de 1963. É uma figura de um tempo que Angola não era independente, mas por via das suas intervenções, enquanto artista também lutou e fez a sua parte. Quero lembrar que quando criança eu já ouvia Sam Mangwana, através de uma cassete amarela no rádio gravador do meu pai e assim eu cresci a ouvir e hoje estou a partilhar momentos com este gigante da música” universal.

O ponto alto do 5 de Outubro

O Top dos Mais Queridos é uma actividade permanente das festividades da Rádio Nacional de Angola. "Quando o Chagas e o Paulo Araújo apresentaram esta preocupação do concurso à directora de programa, Luísa Fançony, havia necessidade de se fazer mais alguma coisa e era necessário criar um movimento com a Rádio Nacional para puxar a juventude e os músicos a criarem novas canções. Estamos numa nova época, hoje não é difícil ter sucesso e já não são só a rádio e a televisão (TPA) as únicas responsáveis, mas a rádio, apesar de tudo, ainda continua a ser a líder”.

O porta-voz falou do compromisso da promoção dos ritmos nacionais, tendo adiantado que "o grupo RNA quase sempre primou por tocar música angolana, por conta disto temos a Rádio Cultura, que está voltada para a divulgação e pesquisa da música angolana. Diferente do passado, onde a CT1 gravava as músicas dos concorrentes, hoje outro dos ganhos é o facto de muitos temas serem produzidos em estúdios precários”.

O Top dos Mais Queridos teve a primeira edição em 1982, por ocasião das comemorações do 5 de Outubro, Dia da Rádio Nacional de Angola. A iniciativa foi de João Chagas, Paulo Araújo e Sérgio Carvalho, um trio jovem que apresentou a proposta a Guilherme Mogas e Maria Luísa Fançony, na época director-geral e directora de programas, respectivamente. Em 2021, a Direcção da Rádio Nacional de Angola (RNA) optou pelo regresso das fases provinciais, para dar visibilidade aos artistas não residentes em Luanda e cumprir com o slogan "Unir o país”.

Enquadrada nos festejos do centenário de Agostinho Neto, o ano passado não teve uma edição competitiva. No seu historial de vitórias, Pedrito, com três títulos, é o maior vencedor, seguindo-se Os Kiezos, Jovens do Prenda, Jacinto Tchipa, Yuri da Cunha, Ary e Matias Damásio, com duas conquistas cada. Na galeria constam ainda Proletário, José Kafala, Moniz de Almeida, Jovem Leão, Mamborró, Pacífico da Huíla, Patrícia Faria, Paulo Flores, Maya Cool, Euclides da Lomba, Sabino Henda, Bangão, Mig, Yola Semedo, Kyaku Kiadaff, Yanick Afroman e Os Picantes do Huambo.

Fonte: JA