Sociedade
03 Outubro de 2023 | 16h11

Hospital Neves Bendinha reabre com novas valências e mais profissionais

A reabilitação e ampliação do Hospital Geral Especializado Neves Bendinha, reinaugurado, segunda-feira, pela Vice-Presidente da República, Esperança da Costa, está orçada em 24 milhões de dólares americanos.

A informação foi avançada pela ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, tendo esclarecido que deste total, uma parte resultou do Bónus do Petróleo de iniciativa Presidencial e outra do Orçamento Geral de Estado (OGE), bem como da ANPG, Chevron e seus parceiros, que apetrecharam áreas importantes e vão continuar a dar o seu apoio.

Sílvia Lutucuta fez saber que a unidade sanitária tem boas condições, quer do Banco de Urgência, cuidados intensivos, enfermarias, e todo material necessário para acompanhar o doente até à sua reabilitação.

Conta ainda com uma  área de cuidados primários de saúde, que será um padrão e deverá ser multiplicado.

Na sua intervenção depois do corte de fita, a ministra Sílvia Lutucuta disse que o Governo está comprometido em constituir um novo modelo de gestão e  mobilizar fontes de financiamento que complementem o OGE, através de parcerias seguras, garantindo, deste modo, acesso aos cuidados médicos de todos os cidadãos.

O novo modelo de gestão e financiamento vai permitir que todos os cidadãos, independentemente do seu estrato social, tenham acesso aos cuidados de referência de média e alta complexidade, em cumprimento dos Objectivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Para Sílvia Lutucuta, as características e as valências do Hospital Geral Especializado Neves Bendinha, vulgo dos Queimados, configura-se mais um exemplo do processo de fortalecimento do Serviço Nacional de Saúde (SNS), contribuindo para a promoção da saúde, a prevenção da doença, tratamento e reabilitação de pessoas com queimaduras.

O Hospital vem incentivar a investigação e a formação de quadros, proporcionando a equidade e a redução das desigualdades no acesso aos cuidados de saúde de qualidade e humanizados.

Sílvia Lutucuta esclareceu que o Hospital Neves Bendinha não vai beneficiar apenas a população de Luanda, mas de todo o país e dará melhor resposta às necessidades dos cidadãos e em particular aos próprios funcionários do sector.

A ministra enalteceu as duas empresas angolanas que anuíram ao desafio de transformar este sonho em realidade, numa referência ao empreiteiro da obra, AGFC, e à fiscalizadora, CHADS.

 
Neves Bendinha recebe os primeiros pacientes

No primeiro dia de funcionamento do Hospital dos Queimados foram transferidos mais de 30 pacientes que se encontravam internados no Hospital Municipal do Zango, com realce para crianças, que tiveram prioridade no processo de transferência.

Depois de recepcionarem os primeiros pacientes, com realce para a área pediátrica, a ministra Sílvia Lutucuta disse que as crianças foram transferidas para dar continuidade aos tratamentos de forma mais confortável.

Garantiu, também, estarem criadas todas as condições para um internamento humanizado, não apenas para os pequenos, mas, também, para os seus acompanhantes. Ao lado de cada cama tem uma cadeira reclinável para garantir conforto também aos pais no momento de visitas e não só.

Diante de inúmeros casos de acidentes de queimaduras, Sílvia Lutucuta defendeu a necessidade de se continuar a educar a população sobre os riscos e os cuidados que se deve ter, principalmente com a electrocução, uma das principais causas de incidentes.

Com a inauguração, a ministra disse que o Hospital dos Queimados, além de prestar assistência ao doente queimado, vai, também, atender os cuidados primários de saúde.

Quanto ao reduzido número de anestesistas e cirurgiões plásticos, a ministra disse tratar-se de um problema mundial, principalmente no que diz respeito aos anestesistas por se tratar de uma especialidade de alta complexidade e contar com poucos quadros especializados nesta área.

Sílvia Lutucuta sossegou que no quadro do programa emergencial, o Ministério tem, neste momento, mais de 70 médicos a serem formados em anestesia, número este que será aumentado.

O Hospital dos Queimados, por exemplo, disse, conta com três cirurgiões plásticos, mas está a formar mais. "O mais importante é atender os doentes com todas as competências técnicas e prestar serviços humanizados”, reforçou.

 
Composição do Hospital Geral Especializado

A unidade sanitária, cuja obra de reabilitação, ampliação e apetrechamento teve início em 2019, sob orientação do Presidente da República, conta com um total de 439 profissionais, dos quais 47 médicos, 15 especialistas e 32 médicos internos, 209 enfermeiros, 90 técnicos de diagnóstico e terapêutica, 41 técnicos de apoio hospitalar, 51 do regime geral e 1 assistente social.

A unidade sanitária ganhou uma área de 1.500 metros quadrados, mais de 80 camas, três laboratórios, UTI e Telemedicina. Após a reabilitação, o bloco 1 passou a contar com um laboratório de última geração, esterilização, depósito de medicamentos com fármacos específicos para queimaduras e outros de uso corrente, auditório com capacidade para 81 lugares e áreas administrativas.

O Bloco 2 possui uma biblioteca e sala de reuniões com videoconferência, enquanto o Bloco 3 acolhe os serviços de manutenção e apoio. Já o Bloco Operatório conta com duas salas cirúrgicas e duas de recobro com equipamentos de alta tecnologia, tais como dermátomos e expansores de pele de alta complexidade, entre outros, com conexão aos serviços de Telemedicina, para proporcionar os melhores cuidados aos utentes.

A Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) conta com 13 camas, sendo três de isolamento para patologias infecciosas ou doentes imuno-deprimidos. O Serviço de Laboratório conta com três salas, sendo duas de análises clínicas (interna e externa) e uma de microbiologia.

No Bloco 4 está um Posto de Transformação de energia independente e dois grupos geradores para assegurar a continuidade dos serviços e o Bloco 5 alberga as áreas de Fisioterapia e Serviços Administrativos.


Casos de arrepiar e cortar o coração

A pequena Maria, de cinco anitos, foi a primeira a ser transferida. Com o rosto sereno e os olhos arregalados com a mudança de "casa”, mostrou-se corajosa, mesmo sem ter a mãe por perto. À nossa reportagem, a pequena disse que já se sentia melhorzinha, apesar das feridas de queimadura que se alastraram até ao alto do pescoço.

Questionada como tudo aconteceu, Maria, que está internada desde o dia 25 do mês passado, baixou os olhos e disse apenas para aguardar pela mãe que no momento não se encontrava na nova unidade.

Mauro, de 12 anos, lembra, com arrependimento e muita tristeza, que sofreu fortes queimaduras nos braços e na perna depois de urinar num poste de energia.

Cabisbaixo, mostrou-se que desconhecia que um acto, aparentemente inocente, podia terminar de um modo trágico. Disse que foi tudo tão rápido e em alguns momentos pensou que não fosse sobreviver.

Confrontado sobre como se sentia, Mauro quase chorava porque não consegue movimentar a perna direita devido aos ferimentos. "Assim que sair daqui vou dizer aos meus amigos para nunca urinarem no poste”, disse.

Assim como a pequena Maria e o Mauro, muitos foram os casos de queimaduras transferidos para o Hospital Neves Bendinha, numa imagem de cortar o coração.


Fonte: JA