Cultura
02 Outubro de 2023 | 16h34

Elias Dya Kimuezo é distinguido e considerado homem de carácter

Moradores do Cassequel, outrora vizinhos do cantor e compositor Elias Dya Kimuezu, e habitantes de bairros adjacentes consideraram o Rei da Música Angolana como um homem de caracter, “grande personalidade”.

Os antigos vizinhos fizeram estas declaraçõs durante a homenagem ao Rei da Música Angolana na tarde de sábado, realizada na rua 10 do Cassequel, um evento organizado pelo Grupo de Amigos do Cassequel, Calemba e Arredores (GACCA), que inclui os bairros Mártires de Kifangondo e da Policia.

Na ocasião, o antigo morador do Cassequel recebeu uma obra de arte do escultor Mpambukidi Nlufindi, entregue por Fé Silva. O autor da peça aceitou o desafio e recorreu ao imaginário do caçador, porque considera que Elias dya Kimuezo, ao longo da carreira, tem caçado almas pelas mensagens das suas composições.

A simpatia e o companheirismo estiveram em alta numa tarde de reencontro entre Elias dya Kimuezo e outros antigos moradores, na maioria uma geração mais nova, que reconhece os feitos do ilustre vizinho em prol da música nacional, patriotismo e cidadania. No último dia de Setembro, o ambiente vivido foi de um autêntico "Sábado nos Musseques”, referindo-se ao texto poético de Agostinho Neto, primeiro Presidente da República, nacionalista que inspirou Elias dya Kimuezo em temas musicais. 

Fé Silva justificou a escolha da seguinte maneira: "Elias dya Kimuezo é um dos mais antigos moradores do Cassequel, apesar de já não viver aqui, como muitos de nós, por isso decidimos fazer esta homenagem, ele é um dos mais notavéis nomes do bairro. É o segundo homenageado, na estreia brindamos o kota Júlio Guilherme, que é na verdade o mais antigo morador do bairro, não está cá hoje por questões de saúde”.

Ao fazer uma colagem à obra artistica do autor de "Samba Madya” disse acreditar que uma boa parte de algumas músicas foram feitas enquanto morador do Cassequel, mas "é verdade que ele não começou a cantar aqui. Aqui viveu, também, o Santocas, para citar outra personsagem que marca a nossa cultura”, realçou.

Para Pedro Panzo, morador do Cassequel desde 1970, a homenagem é gratificante e oportuna, porque é melhor fazer enquanto as pessoas estão vivas. "O Kota Elias tem uma grande trajectória e hoje, certamente, vai deixar espaço para outros legados. É um indivíduo com convicção e com foco na música, com interpretações em kimbundu e sem desprimor às outras línguas”.

Referiu terem conseguido reunir toda a "malta”, porque se trata de um ícone da música, "que conviveu um pouco connosco, pese embora a diferença de idades, todos temos boas recordações e quando Elias se exibe, também nos representa”. Apontou os temas preferidos "Samba Madya” e "Ressureição”, esta última porque se trata de uma música dedicada a um amigo de Elias dya Kimuezo que foi morador no Cassequel. "Ele foi irmão da mana São que vive aqui na rua 19, esta música nos toca muito”, disse.

Outra figura do Cassequel que marcou presença foi Zeca Dilangue, antigo radialista da Ecclesia. Deixou o seu contributo afirmando que Elias dya Kimuezo é um mais velho de referência, homem culto, tem carácter e personalidade, porque recebeu os bons princípios morais da família. Eu conheci o Kota Elias em 1966, tinha dez anos, e esta homenagem é o nosso modesto reconhecimento”.

No seio da geração mais nova, Nazaré Mateus afirmou que está há cinco anos no Cassequel e sempre frequentou o bairro, porque "vivi no Mártires de Kifangondo, bairro com fortes ligações, quanto à homenagem é bem-vinda. Sou jovem, mas gosto muito das músicas do Elias dya Kimuezo por influência dos meus pais”.

 Ao longo da farra que se estendeu até à madrugada, as principais músicas de Elias dya Kimuezo animaram a pista na primeira parte e depois outros temas de outros compositores, nacionais e estrangeiros, ajudaram a levantar a poeira agora imaginária.

O GACCA existe há seis anos. Tudo começou num encontro quando oito amigos se reuniram para um almoço, a 30 de Setembro de 2017.  Constataram que os amigos se encontravam, apenas, em momentos fúnebres (óbitos), por isso decidiram promover encontros de confraternização para convivios e homenagens.

Perfil do antigo morador do Cassequel

Elias José Francisco - Rei Elias Dya Kimuezu - nasceu em Samba Kimôngua, nos arredores do bairro Sambizanga, em Luanda, a 2 de Janeiro de 1936. Casado no civil em 1971 e, em 2018, na Igreja Católica, com Suzana Cadete Francisco.

    Teve uma infância difícil, com a morte dos pais, aos sete anos, por isso, foi viver com a avó Domingas. Depois da passagem pelos coros religiosos e pequenos grupos de amigos, foi vocalista principal da "Turma do Margoso”, "Os Makezos”, "Kizombas”, "Ginásio” e "Dikindús”, assim como teve passagens pelos conjuntos "Os Gingas” e "Kissanguela”.

Elias Dya Kimuezu, da mesma forma que teve passagens por várias formações, fixou residência no Sambizanga, Marçal, Rangel, Cassequel e, acompanhando o ritmo do crescimento urbano, hoje, tem o atestado de residência na Urbanização Nova Vida.

Conta com quatro LPS (Long Play), oito singles, dois CD e temas dispersos em várias colectâneas, sendo a mais recente "O Semba Passa Por aqui”, de 2015, lançado uma década depois de "Sucessos do Passado”.

Ao longo do percurso artístico do Rei Elias, encontramos canções que marcam várias gerações de angolanos.

Todo este rico acervo musical interpretado na língua nacional kimbundu, a imagem de marca do Rei Elias, que no cimo dos seus 87 anos, sente que ainda tem forças para alguns momentos de palco.


Fonte: JA