Cultura
29 Setembro de 2023 | 20h22

Escritor José Sales referiu que é indiscutível a presença negra na civilização egípcia.

A Academia Angolana de Letras realizou nesta quinta-feira, a quarta conferência do ciclo do mês de Setembro da série conversas da Academia saudando o septuagésimo primeiro aniversário do nascimento de António Agostinho Neto. Foi conferencista o escritor José das Candeias Sales, que dissertou sobre o “O Egipto faraônico e a África negra ”.

Sob moderação do antropólogo Francisco Vieira José, o conferencista apresentou uma reflexão teórica e metodológica a respeito da civilização egípcia faraônica  e da sua relação com os demais africanos. Demonstrou assim o contributo da civilização nilocêntrica africana para o progresso à escala mundial. 


O conferencista recorreu a Théofele Obenga e a Cheick Anta Diop. Para desmontar a relação multicultural entre o Egipto faraônico e a restante África, distanciando-se assim da visão eurocêntrica que domina parte dos estudos de egiptologia. Do ponto de vista linguístico, fez menção ao facto de se encontrarem em África "estruturas semânticas, palavras e conceitos com similitude com a forma da expressão hoeróglifica egípcia”.


Do ponto de vista econômico, escritor mencionou os registos historicos a respeito de expedições comerciais ao centro de África, para a procura de ouro, de produtos agrícolas, de madeira, marfim, pele de leopardo e pedras preciosas. Para além disso, "a metalurgia do Egipto no império novo materializou-se graças ao contacto com a África negra”. Nos túmulos de funcionários superiores da administração egípcia, há também registo de relações culturais com povos da África Central, incluindo encontros com pigmeus. 


O Vice-Reitor da Universidade Aberta de Lisboa deu ainda conta do facto de a 25.a dinastia dos faraós negros egípcios provir da Núbia: "são koshitas, do Sul, de pele negra”. 


José Sales afirmou ser "indiscutível a presença negra na civilização egípcia, que incluiu acima de 3 mil anos de História, de modo que se trata de uma realidade que não deve ser vista de modo uniforme”. Acrescentou que "foram os assírios que fizeram recuar os Kushitas para a Núbia a (Sul), mas manteve-se o substrato africano no Egipto”. Persas gregos e romanos acrescentaram depois ingredientes à cultura egípcia, mantendo-se entretanto o substrato africano.


A próxima conversa da Academia à Quinta -feira está agendada para o dia 5 de outubro a partir das 19 horas. Sob moderação do crítico literário Antonio Quino, O escritor Roderick Nehone vai falar sobre "Literatura e memória: o futuro da identidade”. A participação via ZOO será livre.