Política
21 Agosto de 2023 | 10h51

Angola e Cuba renovam laços de cooperação e solidariedade

O chefe de Estado angolano, João Lourenço, recebe esta segunda-feira, em Luanda, o seu homólogo de Cuba, Miguel Mário Diaz-Canel Bermúdez, para passar em revista o estado das relações de cooperação entre os dois países, unidos por históricos laços de amizade e solidariedade

Bermúdez chegou domingo à capital angolana, para uma visita de Estado de 48 horas, consagrada ao estreitamento da cooperação bilateral, mediante a assinatura de acordos de parceria em vários domínios de interesse comum.

Segundo uma nota oficial, o líder cubano inicia o seu programa com uma visita matinal ao Memorial Dr. António Agostinho Neto, onde procede à assinatura do Livro de Honra em homenagem ao fundador da Nação Angolana.

O encontro com o seu homólogo angolano será seguido de conversações oficiais entre as delegações dos dois países, antes da assinatura dos instrumentos jurídicos propostos e  declarações conjuntas à imprensa.

No período da tarde, Bermúdez vai discursar na Assembleia Nacional (Parlamento), em Luanda, em sessão solene para honrar esta sua primeira visita a Angola como Presidente da República e a terceira de um chefe de Estado cubano.

Entre outras actividades, Miguel Bermúdez vai ainda depositar uma coroa de flores no túmulo do comandante cubano Raúl Diaz Arguelles Garcia, no Cemitério Alto das Cruzes, em Luanda, antes de se encontrar com os antigos estudantes angolanos em Cuba.   

O estadista cubano deixa Luanda terça-feira, à noite, com destino a Moçambique no prosseguimento da sua digressão pelo continente africano que o deverá conduzir também à África do Sul.

Neste último país, o líder cubano vai participar, como convidado, na cimeira de Chefes de Estado e de Governo do bloco de economias emergentes do Brasil, da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul (BRICS).

A primeira visita de um chefe de Estado cubano a Angola ocorreu com Fidel Castro Ruz, em Março de 1977, pouco mais de um ano após a efectuada a Cuba por António Agostinho Neto, primeiro Presidente angolano.

Fidel Castro visitou Angola pouco depois da proclamação da Independência nacional, a 11 de Novembro de 1975.

Seguiu-se a de Fevereiro de 2009, efectuada por Raúl Castro Ruz, irmão de Fidel Castro que dirigiu os destinos de Cuba, de 24 de Fevereiro de 2008 a 19 de Abril de 2018, na sequência da retirada deste último da vida política.

Nascido a 3 de Agosto de 1926, Fidel Alejandro Castro Ruz faleceu, em 25 de Novembro 2016, aos 90 anos de idade.

47 anos de irmandade e solidariedade

Através de um acordo rubricado pelo então ministro angolano das Relações Exteriores, José Eduardo dos Santos, e pelo primeiro embaixador de Cuba em Angola, Oscar Oramas, os dois países estabeleceram relações diplomáticas, em 15 de Novembro de 1975, quatro dias depois da Independência.

A relação bilateral está alicerçada numa forte irmandade e solidariedade forjadas, a partir da Independência então ameaçada por disputas internas apoiadas por forças estrangeiras. 

As autoridades angolanas reconhecem que Cuba teve papel crucial na proclamação dessa independência, pois milhares de militares cubanos verteram seu sangue, combatendo ao lado dos angolanos contra a invasão estrangeira e pela integridade das fronteiras.

Os primeiros instrutores militares cubanos chegaram a Luanda, em Outubro de 1975, quase nas vésperas da proclamação da Independência cuja disputa pelos três movimentos de libertação então existentes (MPLA, UNITA e FNLA) mergulhou o país numa guerra civil que terminaria 27 anos depois.

Calcula-se que pelo menos 450 mil cubanos, entre militares médicos, professores, engenheiros e outros profissionais estiveram em Angola durante os 16 anos da presença cubana em território nacional sob a designação de "Operação Carlota”.

Esta operação terminou em 1991 com a retirada de Angola do último soldado cubano ao abrigo dos Acordos de Nova Iorque, assinados em 1988 entre Angola, Cuba e África do Sul, que conduziram também à independência da Namíbia, em 1990.

As estimativas disponíveis apontam para  pelo menos 10 mil baixas cubanas, entre mortos, feridos e desaperecidos, nas diferentes fases da guerra civil angolana, incluindo na célebre Batalha do Cuito Cuanavale, na província meridional do Cuando Cubango.

Angola e Cuba mantêm hoje uma colaboração privilegiada, com realce para as áreas de defesa e segurança, saúde, educação, ciência e tecnologia, fruto de um Acordo Geral de Cooperação que vigora desde 1976, no quadro das suas relações diplomáticas estabelecidas no ano anterior.

Depois do fim da guerra, mais de quatro mil cubanos continuaram a prestar colaboração no país em diversos sectores, especialmente na saúde e na educação.

Enquanto isso, Cuba continua a formar centenas de quadros angolanos a nível de licenciatura, mestrado e doutoramento, contribuindo na redução de lacunas no domínio dos quadros.

Recentemente, os dois países rubricaram um acordo para garantir a difusão, com maior regularidade, de investigação sobre a vida e obra dos seus líderes políticos.

O documento, assinado em Março de 2023, em Luanda, entre o Memorial António Agostinho Neto e o Centro Cultural Fidel  Castro de Cuba, visa maior colaboração com publicações de obras, palestras e conferências, para divulgar a revolução histórica de Agostinho Neto e Fidel  Castro à nova geração.

Formação de docentes angolanos

A formação de professores angolanos em Cuba remonta aos anos 80, com a ida dos primeiros 845 profissionais em diversos níveis e instituições de ensino.

Dados de 2020 apontam que, dos  dois mil e 556 bolseiros angolanos em formação, em Cuba, 77 fazem pedagogia a nível superior, em diversos estabelecimentos especializados, enquanto 700 seguem medicina, incluindo cardiologia.

Até 2017, conforme informações oficiais, Cuba recebia em média 40 estudantes angolanos, para formação nas áreas de ciências exactas e a nível pedagógico, nos centros especializados em Cienfuegos e Santiago de Cuba.

Ao longo de várias décadas, Cuba tem também recebido várias centenas de angolanos, quer a título individual, quer por intermédio de bolsas de estudo governamentais, à busca de conhecimento científico neste país da América Central.

Dados do Governo angolano indicam que, em 2018, regressaram ao país 133 quadros formados em Cuba, nas especialidades de medicina, engenharia informática, electrónica, biologia, pedagogia, telecomunicação electrónica, direito e outras.

À luz do Acordo Geral de Cooperação, estima-se que mais de 40 mil angolanos foram formados em Cuba, nas especialidades da agricultura, saúde, construção civil, comunicação social, educação, militar, defesa e segurança, transportes e ciências políticas, música e teatro.

O Sistema Nacional de Saúde, que comporta duas mil e 644 unidades sanitárias, é assegurado por 69 mil e 816 trabalhadores, dos quais seis mil e 400 médicos, 35.458 enfermeiros e oito mil e 780 técnicos de diagnóstico, entre outros.