Saúde
15 Agosto de 2023 | 10h22

Instituto de Luta contra a SIDA implementa novo teste rápido

O Instituto Nacional de Luta Contra a SIDA (INLS) está a implementar, desde Janeiro, no seu algoritmo de testagem rápida um terceiro teste, denominado “SD-Bioline”, que permite obter resultados mais precisos de casos de VIH.

O director-geral adjunto do INLS, José Carlos Van-Dúnem, informou ao Jornal de Angola que, numa primeira fase, este terceiro método de testagem rápida já é usado nas províncias de Benguela, Bié, Namibe, Huíla, Huambo, Cunene, Cuando Cubango, Luanda, Lunda-Sul, Malanje, Cuanza-Sul e Uíge. 

Até ao final do ano, garantiu o responsável, a nova técnica vai abranger, igualmente, as restantes províncias, designadamente Cabinda, Zaire, Moxico, Lunda-Norte, Cuanza-Norte e Bengo.

Para isso, nesta altura, o INLS está a realizar sessões formativas de formadores, para estes, posteriormente, disseminarem as acções de capacitação a todos os municípios de cada uma dessas províncias. 

"Com esta capacitação, todos os técnicos poderão executar de forma correcta a nova técnica. Eles estavam formatados a usar algoritmo de apenas dois testes, daí a necessidade de continuarem a ser formados para trabalhar com mestria no método acrescido”, explicou.

Sobre o feedback das províncias onde já se faz o diagnóstico através do algoritmo dos três testes rápidos, o director-geral adjunto do INLS considerou-o bastante positivo, ao realçar que "as estatísticas indicam que os técnicos estão a trabalhar com a devida correção”.

José Carlos Van-Dúnem esclareceu, ainda, que a implementação deste teste surge em respeito à recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) inicialmente aos países com prevalência abaixo de 5 por cento e agora estendida a todos os países para terem algoritmos (de três testes rápidos).

Mesma sensibilidade com exames laboratoriais 

A responsável do Laboratório de Biologia Molecular do INLS, Bárbara Pocongo, considerou que a eficácia e a sensibilidade dos testes rápidos, com vista a diagnosticar o VIH, é comparável aos exames serológicos e outros realizados em laboratórios.

"Mas, usam-se testes rápidos porque, em termos de Saúde Pública, deve-se trabalhar no sentido de o diagnóstico correcto chegar à população”, explicou.

Bárbara Pocongo salientou que os testes rápidos, além de mais fáceis, podem ser feitos em qualquer lugar, mesmo onde não haja qualquer infra-estrutura laboratorial.

Por causa disso, em termos de Saúde Pública, passou a ser uma recomendação da OMS. Aliás, acrescentou que garante que o paciente receba o resultado na hora da testagem e, a partir daí, ser aconselhado e ter seguimento, caso seja positivo. 

Em relação aos demais exames laboratoriais, disse que o paciente precisa de fazer a colheita e voltar dias depois para a obtenção dos resultados. Às vezes, revelou, este método faz com que muitas pessoas não mais regressem, mesmo quando o resultado for positivo. 

"Esta situação complica o processo de seguimento ao paciente”, realçou Bárbara Pocongo.

Representação de testes pelo número de pessoas 

O director-geral adjunto do INLS esclareceu que os testes feitos não equivalem ao número de pessoas testadas, porque, às vezes, os que recebem resultados positivos têm tendência de ir a uma segunda unidade testar, na ânsia de conseguir um negativo. 

José Carlos Van-Dúnem considerou serem raras as pessoas que recebem o resultado positivo e aceitam com naturalidade. Por isso, realçou que, ao se falar em testes, nem sempre se pode pensar na quantidade de pessoas, mas no número de testagens. 

Para se ter estatísticas mais fiáveis do número de pessoas seropositivas notificadas o MINSA, está a trabalhar na criação de um software integrado, de notificação de casos, que permitirá ao sistema retirar duplicações e fazer o seguimento de todas as pessoas cadastradas como seropositivas, e caracterizar melhor a epidemia do VIH e SIDA, no país.

Prevenção da transmissão do vírus de mãe para o filho

"A nossa luta é conseguir, cada vez mais, que mulheres grávidas acedam às consultas pré-natais, que sejam diagnosticadas o mais cedo possível durante a gravidez e que as positivas sejam acompanhadas pelo Programa de Prevenção de Transmissão do VIH de Mãe para Filho (PTMF) e tratadas com anti-retrovirais”, disse o médico.

José Carlos Van-Dúnem esclareceu que o desafio é que essas mulheres possam ter o parto numa unidade de saúde, para o início da profilaxia do recém-nascido nas primeiras horas após o parto e que tragam as crianças expostas às consultas de puericultura, permitindo, assim, fazer o Diagnóstico Precoce Infantil (DPI) entre a quarta e sexta semana de vida.

No quadro desta estratégia, a gestante que for portadora do vírus começa cedo o tratamento e de forma regular com o anti-retroviral. Desta forma, explicou José Carlos Van-Dúnem, a mulher atinge o estágio em que terá uma carga viral indetectável, considerada intransmissível. Ou seja, a mãe é portadora do VIH, mas não transmite ao bebé.

Tendo em conta essa vantagem, o responsável aconselhou as grávidas seropositivas para, no momento de darem à luz, fazerem-no sempre numa unidade hospitalar, para que o bebé beneficie do chamado "Tratamento Preventivo à Criança”, por serem os únicos que dispõem deste serviço.

Diagnóstico da criança exposta ao contágio

Para explicar como funciona o diagnóstico da criança exposta, a chefe do Laboratório de Biologia Molecular do INLS garantiu que este programa abrange todas as crianças nascidas de mães seropositivas, desde a nascença até aos 18 meses de vida. Bárbara Pocongo esclareceu que, entre a quarta e sexta semana de vida da criança, faz-se o primeiro teste virológico ou de biologia molecular para determinar se a criança é positiva. Se o resultado for positivo, colhe-se uma nova amostra, para confirmação.  Caso este último teste der, igualmente, positivo, disse que a criança inicia o tratamento com anti-retrovirais pediátricos, no sentido de serem diminuídas as chances de mortes ou de evolução para SIDA.

Quando for negativo no primeiro teste, a criança é monitorada e submetida a um segundo exame aos nove meses, uma vez que continua exposta pela amamentação.

"Mesmo que der o mesmo resultado, ainda assim volta a repetir o teste aos 18 meses, por ser este último o que determinará o estado serológico do menor (resultado final), salientou Bárbaro Pocongo. Questionada se a mãe seropositiva pode amamentar ou não o filho, a responsável do Laboratório de Biologia Molecular da INLS respondeu positivamente.

"De acordo com as recomendações da OMS, as mulheres seropositivas podem amamentar desde que estejam em terapia anti-retrovial”, explicou a responsável. Bárbara Pocongo esclareceu que a referida terapia visa baixar a carga viral, de tal forma que se torne indetectável e, assim, comprovadamente diminui as chances de transmissão do vírus ao seu filho.