Cultura
08 Julho de 2023 | 18h05

Escritor Boaventura Cardoso realçou que cultura comospolita moderna renova e reinventa os valores, mas cria novas assimetrias.

A Academia Angolana de Letras realizou nesta quinta-feira, a primeira conferência do ciclo do mês de Julho da série conversas da Academia à Quinta-feira. Foi conferencista o escritor Boaventura Cardoso, que falou sobre “Tradição e modernidade sob o impacto da modernização problemas e desafios”.

Sob moderação do sociólogo José Octávio Van-Dúnem, o conferencista referiu os benefícios e os malefícios do processo de globalização, onde apresentou uma visão endógena deste processo e da sua relação com as culturas locais.


Boaventura Cardoso, enfatizou o facto de a "cultura e a comunicação social atingirem hoje uma dimensão tal, que se desterritorializaram”. Adiantou que "estamos hoje sob o impacto de uma cultura cosmopolita moderna, que renova e reinventa os valores, mas que cria novas assimetrias e empobrece as culturas ditas periféricas”. O exemplo concreto é dos médias modernos, onde se denota que o "o império dos médias elétricos transporta consigo meios modernos, que fragilizam as culturas menos expressivas”.


O escritor, fez referência que "não podemos  lutar contra a mundialização, mas devemos lutar contra o seu impacto negativo”, pois "temos hoje sociedades abertas, baseadas no diálogo inter-cultural, onde impera a exigência de uma suposta cultura mundial”. Contudo, considera que devemos ter presente que "não há, nas sociedades em geral, separação absoluta entre o novo e o velho, entre tradição e modernidade; o que há é uma relação de coexistência, há intenção entre o tradicional e o moderno”. 



O antigo Ministro da Cultura, deputado e antigo Embaixador de Angola em Roma e Paris, destacou o facto de o novo objetivo dever ser o da preservação da memória colectiva, devendo também haver preservação das identidades locais: "da interação entre o velho e o novo resulta a pluralidade e a diversidade da memória coletiva humana”.


Depois de destacar que o "moderno é a simples transfiguração do passado”, pelo que "a moda não é mais do que o antigo que regressa com nova roupagem. 


Boaventura Cardoso assinalou para o caso angolano, que as "políticas públicas existem, foram bem traçadas, mas o que falta é a sua implementação ". Deu o caso das línguas nacionais, cujos falantes nos centros urbanos vêm diminuindo e nada se faz para reverter esse quadro. 



O encontro contou com a presença de investigadores de Angola, Arábia Saudita, Bélgica e Moçambique.


A próxima conversa da Academia à Quinta -feira está agendada para o dia 13 de Julho a partir das 19 horas. Sob moderação do sociólogo  Octávio Van-Dúnem , O filósofo Moçambicano Jose Castiano dissertará o tema "África Pan-africanismo ou panassionalismo?”. A participação via ZOO será livre.