Cultura
20 Junho de 2023 | 09h22

Festival da Região Leste promove diversidade dos estilos tradicionais

“Os grupos tradicionais de música e dança na Região Leste do país, nomeadamente, Moxico, Lundas-Norte e Sul, esperam uma maior valorização dos estilos de raiz e a própria preservação da matriz cultural, com a realização da primeira edição do Festival de Música e Dança NGEYA que se realiza nos 23 e 24 deste mês, na cidade do Luena.

O festival acontece numa altura em que os grupos necessitam de mais espaços para a dinâmica que se pretende na valorização e preservação dos mais variados estilos musicais de raiz e dos seus protagonistas.

Para os grupos tradicionais como Tchinguvu, Muesseke Wtale, Txako Txa Utxokwe e Mavinga deveria fazer-se um pouco mais para a preservação do folclórico, uma realidade que está a "perdurar no tempo”. Por outra, acreditam que a iniciativa da Sociedade Mineira de Catoca vai de certa forma cobrir uma lacuna muito presente no país no sentido de dar alguma visibilidade aos trabalhos desenvolvidos pelos grupos tradicionais.

De acordo com o líder do grupo Tchinguvu, Estêvão Tchiazi, manter um projecto cultural e artístico no activo não tem sido tarefa fácil para ninguém, sobretudo, para os grupos tradicionais que são pouco valorizados pela sociedade angolana. Lamentou o facto dos grupos serem aproveitados somente quando existem cerimónias governamentais e pouco ou nada mais acontece de produção de festivais do género na região.

Estêvão Tchiazi fez um enquadramento histórico para explicar que o grupo procura manter o mesmo formato deixado pelos ancestrais há mais de um século de existência do grupo Tchinguvu que significa (tambor), um instrumento musical de percussão.  "O país precisa fazer um pouco mais no resgate e valorização do folclore nacional e dos seus executantes”.

Para o seu colega e co-fundador do grupo, um dos lemas, ao longo das décadas de existência, tem sido trabalhar para "não deixar morrer a matriz cultural de raiz”.

Para isso, o grupo vai continuar a manter uma identidade original a nível dos instrumentos tradicionais e da pesquisa do próprio folclórico, afirmou, o também vocalista e tocador de tambor. Proveniente do bairro Kamakenzo 2, na província da Lundas-Norte, os elementos do grupo Tchinguvu enfatizaram a importância de uma maior valorização dos ritmos e estilos tradicionais. "O Ministério da Cultura e Turismo e os órgãos de comunicação social, sobretudo, os empresários precisam dar mais atenção e criar outros eventos do género pela promoção e defesa dos estilos tradicionais nacionais”.

Durante o período de "letargia” ou falta de actividades culturais e artísticas  os integrantes do Tchinguvu ensaiam três vezes por semana, para aperfeiçoar técnicas, como canto, execução de instrumentos musicais, entre os quais o batuque.

  Estímulos financeiros aos participantes

O responsável do grupo Muesseke Wtale, André João Kapela, disse que se tem dado pouca importância e visibilidade ao trabalho feito pelos grupos folclóricos nacionais.

Para André João Kapela, ao longo de duas décadas de existência do grupo, o folclore continua a ter pouca expressão no panorama musical nacional.

Actualmente, garantiu, não têm muito para fazer, mas o grupo tem trabalhado algumas coreografias e mantido encontros periódicos, enquanto esperam por convites para actuar nos casamentos, actividades tradicionais  e de Estado. O grupo é constituído por 24 integrantes e é defensor dos estilos tchianda, tchissela e akichi.

Com o quartel-general montado no Bairro Kamakenzo 2, o grupo apresenta um reportório composto por ritmos musicais e danças, muito criado com base em pesquisas feitas na Rgião Leste de Angola. Fundado em Janeiro de 2001, tem feito um calendário de actuação, em função dos principais desafios e preocupações das Comunidades locais onde são abordados permanentemente questões sobre a violência doméstica, o respeito aos mais velhos e a preservação da cultura lunda-tchokwe.

 

 Falta de incentivos

A falta de políticas proteccionistas e fraca aposta nos grupos de música folclórica nacional é uma realidade que precisa de ser invertida o mais rápido possível. Essa preocupação, de acordo com Evaristo Maxingo, membro do grupo Txako Txa Utxokwe, deve ser primeiro do Estado angolano e depois dos agentes culturais e empresários. 

O Festival de Música e Dança da Região Leste, disse,  com a particularidade de ser uma amostra cultural e não um concurso, os grupos participantes vão ser agraciados com estímulos financeiros que podem servir de alento para os grupos.

O grupo Txako Txa Utxokwe do município do Chitato, província da Lundas-Norte, tem 42 integrantes. O folclore em si, ressaltou, pode e deve estar na lista de prioridades, por representar as tradições e manifestações de um povo, expressas nas crenças, canções e costumes.

Evaristo Maxingo enalteceu, com satisfação, as iniciativas culturais que têm sido levadas a cabo na Região Leste, como a do projecto Catoca que, enquanto durar, vai permitir apresentar vários espectáculos do género tradicional, que ajudem a reactivar o folclore angolano.

Durante a exibição o grupo vai mostrar a diversidade cultural da região e dos povos lunda-tchokwe com destaque para as canções "Kanda o kola”, que fala da importância dos jovens respeitarem e obedecer aos mais velhos, enquanto o tema "Ngueno”, fala dos prejuízos causados pela a inveja. Em 2020, o grupo foi consagrado o vencedor do Carnaval local, sendo actualmente um dos maiores feitos do grupo enquanto preservador e incentivador dos hábitos e costumes dos povos lunda-tchokwe.

Neste período, referiu, o grupo tem realizado algumas acções sociais nas comunidades na mobilização da juventude para o trabalho,  respeito aos idosos,  valorização da família e dos símbolos nacionais.

 

Valorização e preservação

A preocupação da valorização do folclore é unânime. Por outro lado, Zito Joãozinho, do grupo Maringa, encorajou os criadores, em especial os dançarinos, a continuar a apostar na criação artística, neste momento em que o país vai testemunhar um dos maiores festivais da Região Leste de Angola.

A situação que muitos fazedores de artes enfrentam para se manter no activo, segundo Zito Joãozinho, tem permitido que, por questões de sobrevivência, muitos artistas sejam "obrigados a optar por outras profissões que garantem a sobrevivência das famílias”. Essa condição, explicou, em nada dignifica a classe, uma vez que os grupos tradicionais têm por missão a protecção da herança cultural dos povos.

 

Fonte: JA