Internacional
22 Janeiro de 2023 | 14h52

"Moda" da corrida ao armamento limita combate à pobreza, aponta Guterres

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou sábado, em Cabo Verde, que a corrida ao armamento está a limitar o apoio financeiro aos países em desenvolvimento no combate à pobreza, "moda" que espera possa "terminar em breve".

"É evidente que estamos a assistir a uma tendência de rearmamento a nível mundial, estamos a assistir não à redução, mas ao aumento das despesas militares. E esse é mais um factor que está a limitar a capacidade de apoiar financeiramente os países em desenvolvimento, e espero que esta moda possa terminar em breve", afirmou António Guterres, questionado pela Lusa após reunir-se no Mindelo, ilha de São Vicente, com o primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva.

Vários países têm anunciado aumentos nos gastos com as Forças Armadas na sequência da guerra na Ucrânia, provocada pela invasão da Rússia em Fevereiro de 2022.

O Governo de Cabo Verde definiu a meta de eliminar até 2026 a pobreza extrema, que atinge cerca de 13 por cento da população e mantém uma estrutura de Forças Armadas de reduzida dimensão, com o secretário-geral das Nações Unidas a apontar o país como um "exemplo" para África e para o mundo.

"O mais importante dos Objectivos Desenvolvimento Sustentável é a erradicação da pobreza. A redução da pobreza é uma questão central porque ela permeia todas as áreas da vida económica e da vida social. A erradicação da pobreza necessita de investimento em educação, necessita de investimento em saúde, necessita de investimento em trabalho. E o objectivo de Cabo Verde de anular a extrema pobreza em 2026 corresponde a uma visão estratégica para o desenvolvimento que é inteiramente coincidente com a visão da Agenda 2030 das Nações Unidas", disse ainda António Guterres.

António Guterres iniciou hoje uma visita de três dias a Cabo Verde, no âmbito da Ocean Race, a maior regata do mundo que de 20 a 25 de Janeiro faz escala na ilha cabo-verdiana de São Vicente, participando na segunda-feira, também no Mindelo, na Ocean Summit.

Na declaração aos jornalistas, o primeiro-ministro cabo-verdiano pediu o apoio do secretário-geral das Nações Unidas ao grupo dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS), impactados pelas alterações climáticas e pelas crises económicas provocadas pela pandemia de covid-19 e da guerra na Ucrânia.

"Nós somos um deles (SIDS) e uma das áreas onde Cabo Verde se quer posicionar para podermos aumentar a nossa capacidade de resiliência e o reconhecimento das especificidades de um país ilhéu", afirmou Ulisses Correia e Silva.

"Contar com todo o seu empenho, o seu conhecimento específico da realidade de vários países, mas a realidade dos países ilhéus, para que possa ser um grande advogado desta causa dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento, que merecem uma atenção especial. São muitos desses países reformadores, cujo impacto dos investimentos, dos financiamentos, mesmo que sejam em pequeno volume, produzem grandes resultados. E quando são democracias e quando têm estabilidade e têm boa governança, precisam ainda de uma distinção maior", apelou o chefe do Governo cabo-verdiano.

Ulisses Correia e Silva assinalou que Cabo Verde "tem vivido momentos difíceis" nos últimos anos: "As crises atingem a todos bastantes, de uma forma muito particular os pequenos Estados insulares, os países africanos em desenvolvimento. Temos dado boas respostas a nível da gestão da pandemia, Cabo Verde atingiu níveis elevados de vacinação [contra a covid-19], protegemos as empresas, protegemos e cuidamos das famílias, mas tudo com encargos muito elevado para a economia cabo-verdiana".

Ainda sábado, depois da reunião com o chefe do Governo cabo-verdiano, António Guterres participa ainda no evento "Speaker Series", com o primeiro-ministro.

"Mais do que secretário-geral das Nações Unidas, um amigo de há muito tempo de Cabo Verde, que tem uma relação estreita, mas uma relação também que, enquanto primeiro-ministro de Portugal esteve como um dos promotores muito fortes em 1997/98, daquilo que até hoje é a maior reforma que Cabo Verde realizou, a ligação do escudo cabo-verdiano ao euro, os critérios de convergência de Maastricht que a economia cabo-verdiana adoptou, que transforma, de facto, da nossa economia estruturante até hoje", recordou.

"Esperamos que esta sua visita a São Vicente e a Cabo Verde, enquanto secretário-geral das Nações Unidas, também seja o prenúncio de que podemos estar aqui a montar, em Cabo Verde, com todos os nossos parceiros, um bom sistema que nos permita um bom posicionamento enquanto país pequeno insular, relativamente à economia azul", disse ainda Ulisses Correia e Silva.

Fonte: Angop