COVID-19
16 Março de 2021 | 14h13

AstraZeneca. Os alertas, o 'travão' e a opinião de especialistas

s autoridades de saúde portuguesas anunciaram, ao início da noite desta segunda-feira, que Portugal, "por precaução", vai suspender a administração da vacina da AstraZeneca, em consonância com vários países europeus. Mas quando e porquê se começou a desenvolver este 'filme' que atrasa o plano de vacinação numa altura em que começámos a desconfinar? Passemos a explicar.

Na semana passada, foram reportados casos de coágulos sanguíneos após a imunização com o fármaco de Oxford que fizeram 'soar os alarmes' e, mais recentemente, foi descrita uma condição rara: a trombocitopenia - ocorre quando há um número reduzido de plaquetas (trombócitos) no sangue, o que aumenta o risco de hemorragia.

Houve casos, aliás, em que os problemas descritos levaram à morte. Ao percorrer a 'fita do tempo', o Guardian lembra que a Áustria e a Itália reportaram mortes, o que levou à suspensão de um lote da vacina da AstraZeneca. Entretanto, também a Noruega anunciou uma morte por trombocitopenia, assim como três hospitalizações.

Os alertas levaram os governos a 'puxar o travão' e a suspender a imunização com este fármaco, apesar de a comunidade científica defender que não há evidências que apontem para uma relação entre as mortes e a vacina. Naturalmente, para dissipar qualquer dúvida, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, sigla em inglês) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) abriram processos de investigação. 

Revela ainda o Guardian que os especialistas defendem que os casos de coágulos sanguíneos e de trombocitopenia em pessoas que foram vacinadas não são predominantes entre a população vacinada. Na passada sexta-feira, a Sociedade Internacional de Trombose e Hemostasia indicou que "o número reduzido de eventos trombóticos relatados em relação aos milhões de vacinações Covid-19 administradas não sugere uma ligação direta". 

Já no Reino Unido, a Autoridade Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde (MHRA, sigla em inglês) e o Comité Conjunto de Vacinação e Imunização (JCVI, sigla em inglês), que presta assessoria ao governo de Johnson, defendem uma posição semelhante.

"O Reino Unido administrou 11 milhões de doses da vacina AstraZeneca e não houve nenhuma diferença demonstrável no número de coágulos sanguíneos desde que a vacina foi introduzida”, garantiu Anthony Harden, vice-presidente da JCVI. A MHRA, por sua vez, está a trabalhar nos casos, mas "a evidência disponível não sugere [até agora] que a vacina seja a causa”.

O Guardian lembra também que não pode ser descartada a hipótese de as vacinas contra a Covid-19 terem efeitos secundários, exemplificando o caso da gripe suína em 2009. Descobriu-se, a posteriori, que uma em cada 55 mil vacinas Pandemrix potenciava um distúrbio do sono nas crianças. 

Com efeito, a investigação que está a ser conduzida pelas autoridades competentes não excluirá dados importantes como o facto de um idoso de 60 anos que morreu na Dinamarca ser portador de sintomas "altamente incomuns". Na Noruega, sublinhe-se ainda, as três pessoas internadas também apresentavam "sintomas incomuns”.

O meio de comunicação britânico traz ainda a público outras questões que podem justificar a decisão de alguns governos. A França, revela, tem um longo historial de suspeita relativa às farmacêuticas. Na altura da gripe suína, o país comprou milhões de doses, mas várias pessoas recusaram o fármaco. Há ainda uma baixa taxa de vacinação em doenças como o sarampo e a rubéola. 

Já a Alemanha, foi o primeiro país a recusar administrar a vacina da AstraZeneca em maiores de 65 anos por falta de evidência. 

O fornecimento é ainda apontado como outro fator a ter em consideração. O Reino Unido, que continua a aplicar a vacina, tem um stock abundante do fármaco, enquanto que os países europeus que anunciaram a recusa não têm grandes quantidades disponíveis. "Suspender a vacina é mais fácil na Europa se ela não estiver disponível em grandes quantidades", destaca o Guardian. 


Fonte: NM