Cultura
27 Setembro de 2023 | 16h05

Feira das artes incentiva a criação artística e a troca de experiências

Uma feira multidisciplinar é aberta hoje e prolonga-se até sábado, entre às 10h00 e às 17h00 , no Parque da Independência, em Luanda, numa iniciativa da Mbaxe Eventos, com o objectivo de incentivar o empreendedorismo cultural entre as várias gerações da classe artística nacional.

Em declaração, ontem, ao Jornal de Angola, Sebuka Cassule, o promotor do evento, disse que está em vista um vasto programa de promoção das mais variadas disciplinas artísticas na Feira de Artesanato de Luanda.

Os artesãos, disse, vão expor uma grande diversidade de peças de artes, como bustos, embondeiros, pensadores, estatuetas com imagens da palanca negra gigante, rinocerontes, elefantes, caçadores e quadros que representam a fauna e flora de Angola.

Sebuka Cassule explicou que os artesãos poderão ter no local a oportunidade de mostrar, mais uma vez, a riqueza cultural do país, através das obras de artes. "Queremos fazer da primeira edição da feira, num espaço de troca de experiências e a promoção de novas perspectivas culturais, como forma de fomentar o auto-emprego por  via das mais variadas disciplinas artísticas”, destacou.

O coordenador frisou que um dos propósito da promoção da feira multidisciplinar é dar a possibilidades de algumas artes terem mais abertura no mercado artístico e explorar mais o potencial dos criadores locais no fomento do turismo cultural na capital do país. "Durante os quatro dias vão ter o melhor da gastronomia local e de outras regiões do país, de maneira a tornar o evento num local de inclusão e de partilha de conhecimento no sector cultural e das mais variadas manifestações artísticas”.

Sebuka Cassule explicou que o projecto vai servir de referência na divulgação da diversidade cultural do país, através da produção de peças que retratam o modo de vida dos povos, fauna e flora, acrescentando que durante a feira serão realizados seminários com a intenção de potenciar os jovens de conhecimentos, mecanismos e orientações metodológicas sobre a forma como elaborar variados projectos, visando um melhor desempenho e integração dos jovens no universo dos negócios, no sector cultural.

De acordo com o responsável, a feira e as palestras, esperam-se que decorram "num ambiente bastante participativo”, servir de troca de conhecimento, num diálogo interactivo entre jovens empreendedores e personalidades conhecidas no mundo da cultura e das artes.

De acordo com o programa, está prevista uma visita guiada aos espaços dos feirantes, intervenção do coordenador e mentor da feira, e dos representantes do Governo Províncial de Luanda (GPL) e do Ministério da Cultura e Turismo.

Sebuka Cassule frisou que, no primeiro dia, está agendado a exibição de peças de teatro pelo grupo Pitabel, uma performance do Duo Canhoto, bem como música ao vivo para a promoção dos ritmos tradicionais.

No sábado, último dia da Feira do Artesanato de Luanda vai ter a transmissão em directo dos programas radiofónicos "Sons da Banda” e "Compasso Luandense”, da Rádio Luanda, e a exibição do grupo de teatro Etu Lene.

O responsável da feira garantiu que serão realizadas oficinas de aulas abertas de dikanza, com o instrumentista Jorge Mulumba, líder e fundador do grupo Nguami Maka, um multi-instrumentista preocupado com os instrumentos e ritmos ancestrais. Jorge Mulumba é sobrinho de Mestre Kituxi, ícone da música tradicional. Tem colaborado em vários projectos musicais e culturais. No ano de 2020, esteve na África do Sul para uma formação virada à investigação cultural no campo da pesquisa tradicional e africana, na Universidade Nelson Mandela, em Port Elizabeth.

Instrumento de marcação

A dikanza é um instrumento que pode ser feito de cana de bordão ou de bambu, com ranhuras que têm como função produzir o som por via de fricção. É tratado por alguns como reco-reco, um termo não aceite pelos seus executantes e pesquisadores nos últimos tempos.

Segundo defensores do semba, o estilo não é o mesmo sem a dikanza, importante instrumento de marcação, que com a ngoma fez a transposição do processo evolutivo da Música Popular Urbana, dos grupos carnavalescos, passando pelas turmas, culminando nos conjuntos musicais.

Euclides Fontes Pereira "Mestre Fontinhas” do Ngola Ritmos é considerado o melhor tocador de dikanza de todos os tempos. O irmão Male Malamba destacou-se como fabricante das melhores dikanzas, católico que ofereceu um exemplar do instrumento ao Papa João Paulo II.

Ressurreição, dos Gingas, António Pascoal, Adolfo Coelho, dos Kiezos, Zé Fininho, Raul Tolingas, Didi da Mãe Preta, Tony do Fumo, Augusto Chacaya, Chico Coio, Bonga, Joãozinho Morgado, Chico Santos, Massoxi, Lolito e Yasmane Santos são algumas da principais referências na execução do instrumento.

Danças e os artefactos revisitados em oficina

O resultado da aposta na continuidade dos projectos, defesa da identidade e valorização das artes nacionais, com particular realce para a dança e os seus artefactos, vão estar em evidência, também, na primeira edição da Feira do Artesanato de Luanda.

Para esta temática, a organização convidou os especialistas Maneco Vieira Dias, responsável do Ballet Kilandukilu e Virgílio Santos, do grupo de dança "As Diabólicas do Bom Sabor”, que vão trocar experiências com a plateia sobre as danças tradicionais e os seus adereços. 

O coordenador da feira disse que durante a oficina, espera que se possam colher mais subsídios em prol do crescimento dos mais variados estilos de dança no país, no geral, e em especial, as dinâmicas que se registam nas danças tradicionais. "Esperamos que o evento esteja incorporado no espírito da preservação do mosaico cultural nacional e na transmissão do legado aos mais jovens”.


Fonte: JA