"Os atos diretamente dirigidos a financiar ou sufragar as consultas independentistas devem entender-se compreendidos no âmbito objetivo de aplicação da lei e, por conseguinte, amnistiados", defendeu o Ministério Público junto do Tribunal Supremo, nos documentos citados pelos meios de comunicação social.
A defesa de Carles Puigdemont, o ex-presidente do governo regional da Catalunha que vive na Bélgica desde 2017 para fugir à justiça espanhola, pediu também ao Tribunal Supremo que lhe retire a ordem de detenção, por ser "a única solução" que respeita a lei de amnistia já em vigor.
O advogado de Puigdemont pediu ainda para o Tribunal Supremo "declarar amnistiados" os factos atribuídos ao ex-presidente regional, segundo documentos também citados hoje por meios de comunicação social espanhóis.
Para a defesa, restringir a liberdade pessoal de Puigdemont com a amnistia em vigor desrespeita os princípios de "proporcionalidade e necessidade", a própria lei de amnistia e os critérios do Tribunal Constitucional, do Tribunal de Justiça da União Europeia e do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.
O parlamento espanhol aprovou em 30 de maio a amnistia para separatistas da Catalunha condenados, acusados ou procurados pela justiça por causa da tentativa de autodeterminação da região que culminou com um referendo ilegal e uma declaração unilateral de independência em 2017.
A amnistia foi uma exigência dos partidos independentistas Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e Juntos pela Catalunha (JxCat, de Carles Puigdemont) para viabilizarem o último Governo do socialista Pedro Sánchez, em novembro passado.
A nova "lei orgânica de amnistia para a normalização institucional, política e social na Catalunha" foi publicada no dia 11 de junho e entrou imediatamente em vigor, cabendo agora aos juízes a aplicação, apreciando caso a caso.
Segundo o Ministério Público, há 486 pessoas potencialmente amnistiáveis, a maioria ligadas ao movimento independentista, mas também polícias que enfrentam processos judiciais por causa da atuação em manifestações e no dia do referendo ilegal de 2017.
Um dos potenciais beneficiários da amnistia é Carles Puigdemont, que se candidatou de novo a presidente do governo regional nas eleições autonómicas de 12 de maio passado - em que foi o segundo mais votado - e pretende regressar à Catalunha nas próximas semanas, a tempo da formação do novo executivo catalão.
A lei de amnistia, apesar de ter o apoio da maioria dos catalães, dividiu os espanhóis nos últimos meses, como demonstram todas as sondagens e estudos de opinião, assim como magistrados e juristas, e levou dezenas de milhares de pessoas às ruas, em manifestações de protesto convocadas pelo PP e pelo Vox (extrema-direita).
Fonte: NM