Internacional
29 Agosto de 2023 | 15h30

Dois jornalistas condenados na Rússia a 11 anos de prisão à revelia

Um tribunal de Moscovo condenou hoje dois jornalistas russos a 11 anos de prisão à revelia por terem difundido "informações falsas" sobre o exército, anunciou o Ministério Público (MP) da Federação Russa.

Ruslan Leviev e Michael Nacke cometeram o crime de que foram acusados num vídeo que publicaram na plataforma YouTube em março de 2022, logo após a invasão russa da Ucrânia, disse o MP, citado pela agência francesa AFP.

Os dois arguidos são alvo de um mandado de captura das autoridades russas desde maio de 2022 e vivem no estrangeiro.

Muitos críticos da ofensiva russa na Ucrânia e do regime do Presidente Vladimir Putin exilaram-se para escapar à repressão no país.

Ruslan Leviev é o fundador do grupo de investigação Conflict Intelligence Team (CIT), conhecido pelas investigações sobre as atividades do exército russo em todo o mundo.

Michael Nacke, jornalista e comentador, dirige atualmente um canal no YouTube fora da Rússia com mais de um milhão de subscritores.

No início de agosto, o CIT, que se notabilizou em 2014 pela publicação de investigações sobre o envolvimento das forças russas na Ucrânia, foi declarado indesejável pelas autoridades de Moscovo.

Após a ofensiva contra a Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, a Rússia introduziu uma série de medidas penais para punir os críticos do regime.

É proibido utilizar os termos "guerra" ou "invasão" em relação à ofensiva, designada oficialmente como uma "operação militar especial", ou acusar o exército de crimes de guerra, entre outras medidas.

Em consequência, diversos 'media' independentes foram obrigados a suspender a atividade ou a deixar o país, e muitos opositores optaram pelo exílio ou foram detidos e condenados.

Um dos casos recentes mais notórios é o do historiador, jornalista e político Vladimir Kara-Murza, que foi condenado a 25 anos de prisão por traição em abril, na sequência de discursos contra a guerra.

Kara-Murza, 41 anos, é considerado pela Amnistia Internacional como um preso de consciência e era próximo do opositor Boris Nemtsov, assassinado a tiro em 2015, perto do Kremlin, sede do poder em Moscovo.

No início de agosto, o principal rosto da oposição a Putin, Alexei Navalny, sobrevivente de uma tentativa de envenenamento como Kara-Murza, foi condenado a mais 19 anos de prisão, por extremismo.

Navalny, 47 anos, já estava a cumprir uma pena de 11 anos de prisão por alegadas fraudes.

Putin, no poder desde 2000, acusa os críticos internos de serem uma "quinta coluna" ao serviço dos interesses ocidentais.

Fonte: NM