Economia
09 Janeiro de 2023 | 09h42

Reformas políticas e económicas têm reflexo positivo na imagem do país

Angola conquistou, nos últimos cinco anos, um lugar na arena internacional, que lhe permite afirmar os interesses e manter uma relação mais “cordial” com os países da região e demais parceiros do continente do mundo. Analistas em relações internacionais e em economia desenharam, a convite do Jornal de Angola, o quadro que permitiu ao país alterar o curso e retomar a posição de destaque na política internacional.

Nesse caso particular, a imagem de Angola, do ponto de vista político, melhorou substancialmente junto da comunidade internacional, com realce para a União Europeia e os Estados Unidos da América. Para os analistas, isto está directamente ligado às reformas operadas desde 2017, altura em que o Presidente João Lourenço chegou ao poder. As reformas, mormente no capítulo político, passam pelo combate à corrupção e à impunidade que, no ano passado, levou o país a subir 27 lugares no Índice de Percepção da Corrupção, a mais antiga e abrangente ferramenta de medição da corrupção no mundo. O país passou da posição 163, em 2015, para 136, em 2021.

Durante a apresentação da mensagem sobre o Estado da Nação, em Outubro do ano passado, na Assembleia Nacional, o Presidente da República anunciou que o país conseguiu recuperar, por intermédio do combate à corrupção, cerca de 5,6 mil milhões de dólares, em dinheiro e em bens, que tinham sido desviados do erário.

Além deste montante, o Presidente deu, igualmente, a conhecer, que foi apreendido, de 2019 a Setembro de 2022, um total de cerca de 15 mil milhões de dólares, em bens e em dinheiro, sendo 6,8 mil milhões de dólares apreendidos em Angola e o restante no exterior do país. O Presidente assegurou, naquela ocasião, que o combate à corrupção e à impunidade continua a ser levado a cabo pelos órgãos competentes, com determinação e ob­jectividade.

A título de exemplo, disse, que de 2012 a 2017 tinham sido instaurados, no país, apenas 18 processos de inquérito por crimes de corrupção, branqueamento de capitais e conexos, enquanto de 2017 a Setembro de 2022 foram instaurados 527 processos, sendo 247 concluídos, resultando na abertura de 106 processos-crime.

Para o analista angolano de relações internacionais Damárcio dos Santos a luta de combate à corrupção e à impunidade salvou a imagem do país no plano internacional.

O académico, que se pronunciava a propósito do assunto, ressaltou que esta luta que o Presidente João Lourenço decidiu travar, "de forma corajosa", contra estes dois males que, como sublinhou, minam as instituições democráticas, atrasando o desenvolvimento económico, permitiu ao país estabelecer boas relações com diversos Estados, com destaque para os Estados Unidos da América. Resultado que considerou "importante" para o processo de diversificação da economia e criação de mais empregos no país, a grande bandeira da Administração Lourenço.

"O combate à corrupção e à impunidade, que se apresentava, no passado, como um cancro difícil de ser combatido, vai ajudar a atrair muitos investidores para o país, gerando, deste modo, mais emprego para os jovens", realçou. Damárcio dos Santos salientou que o combate à corrupção e à impunidade constituiu um dos requisitos para que o país estivesse entre os Estados africanos convidados pelo Presidente Joe Biden para a Cimeira EUA-África, realizada de 13 a 15 de Dezembro do ano passado, em Washington. "Angola tem sabido levar, a bom porto, este combate, razão pela qual o Presidente Joe Biden convidou o Presidente João Lourenço para participar como convidado especial nesta Cimeira", destacou o analista de relações internacionais, para quem a transparência, democrácia e o combate à corrupção são elementos exigidos para a relação diplomática com os EUA.

Para o académico, esta relação que Angola conseguiu estabelecer com os EUA vai ajudar o país a manter e elevar, ainda mais alto, a sua imagem na arena internacional, pelo facto de aquela grande potência mundial ser, neste momento, o Estado director do Sistema Internacional, bem como a maior força que ajuda a estreitar ou criar um impacto positivo de um Estado na comunidade internacional. "Temos, aqui, uma grande oportunidade de ouro, a todos os níveis, sobretudo, hoje, que o país está a construir uma nova e boa imagem a nível da comunidade internacional", acentuou. Damárcio dos Santos acredita que a boa relação entre Angola e os EUA ajude o país a ter uma maior participação nos acordos do AGOA, uma iniciativa do Governo norte-americano, para uma gama de produtos que beneficiem o acesso preferencial ao mercado dos EUA. Esta iniciativa (o AGOA), permite o acesso de, aproximadamente, 7 mil posições pautais de produtos diversos, originários de países da África Subsaariana ao mercado norte-americano, dos quais se destacam o vestuário, calçado, produtos agrícolas, pesqueiros, químicos e equipamento de transporte.

O académico disse que, no quadro do AGOA, o país não tinha um posicionamento aceitável na parceria com os Estados Unidos da América. Mas, hoje, prosseguiu, com o Executivo liderado pelo Presidente João Lourenço, temos uma grande oportunidade para melhorar o nosso posicionamento, não obstante de os EUA serem muito exigentes a nível de questões relacionadas com a exportação e importação.

 

Produtos seleccionados para o AGOA

Sobre este particular, o também especialista em relações internacionais Osvaldo Mboco defendeu que o Estado angolano deveria identificar, dentro da sua base de exportação, uma gama de produtos para serem exportados para os EUA, por ser o maior mercado do mundo. "Mas, para tal, Angola teria de estudar, com profundidade, a pauta aduaneira dos EUA, os requisitos exigidos para a entrada dos produtos", frisou.

Sobre a boa relação que os Estados Unidos mantém, neste momento, com Angola, Osvaldo Mboco reforçou que a mesma deve-se, também, ao facto de o país ser um dos mais importantes e estratégicos do continente africano, por causa da sua localização geográfica.

O analista acredita ser este um dos motivos que desperta o interesse de muitos investidores estrangeiros sobre o país. "E este interesse deve-se às mudanças que estão a ser operadas no país, com destaque para o combate à corrupção, à impunidade, bem como a criação de um bom ambiente de negócio", aclarou.

Osvaldo Mboco disse que a diplomacia angolana deveria aproveitar este bom momento do país para ajudarem a captar mais investimento privado para o país. "Os nossos diplomatas, inseridos nos serviços consulares, devem ajudar o país a manter contactos privilegiados com empresários destes países, a fim de virem investir no país", ressaltou.

Reformas económicas

O economista Fernando Vunge salientou que, a par do combate à corrupção e à impunidade, outros factores que têm despertado muito o interesse dos investidores estrangeiros que querem investir no país foram as reformas económicas empreendidas durante o primeiro mandato do Presidente João Lourenço, sustentadas pelos vários programas económicos, com realce para o Plano de Estabilização Macroeconómica e o Plano de Desenvolvimento Nacional 2018-2022.

Fernando Vunge disse que estas medidas têm merecido, frequentemente, o elogio da comunidade internacional, com destaque para o FMI, Banco Mundial, Banco Africano de Desenvolvimento e as principais agências de "rating", que têm atribuído notas positivas ao país. "Esses elogios despertam o interesse dos investidores internacionais na nossa economia", realçou.

Fernando Vunge salientou que este interesse dos investidores sobre Angola pode crescer ainda mais, nos próximos tempos, dada as previsões económicas mais recentes, que prevêem uma recessão económica nas principais economias mundiais, como nos Estados Unidos da América, China e na Europa, provocada, em grande parte, por factores geopolíticos. Fernando Vunge referiu que estes factores poderão influenciar, de alguma forma, na mobilidade dos investidores em regiões com previsões de crescimento económicos, como é o caso de Angola, que, depois de um registo de 0,7 por cento, em 2021, 2,7 por cento, em 2022, prevê crescer, agora, 3,3 por cento, este ano.

Fonte: JA