Sob moderação do escritor António Quino, o conferencista do dia lembrou que cada sociedade deve criar e impor o modelo de educação que pretende e melhor se coaduna com as suas perspectivas de desenvolvimento, desde que esteja em consonância com o seu horizonte sociolinguístico e respeitando sempre as línguas dos seus povos.
"Parece-me que nossas próprias elites cultural, económica e política têm algum receio e complexo à volta da introdução das línguas africanas de Angola no sistema de ensino. É preciso perceber-se que o ensino das línguas nacionais nas escolas não prejudicará a língua portuguesa. O que enriquece Angola são as várias culturas, com todas as suas línguas”, referiu o académico. Filipe Zau, vice-presidente da Academia Angolana de Letras.
Durante a dissertação, o conferencista referiu que não há culturas menores, nem culturas maiores; "Todas as culturas e todas as línguas devem ser respeitadas. Sustentabilidade para o desenvolvimento não é só na área ambiental. É também cultural”, salientou.
Filipe Zau, chamou ainda à atenção para a necessidade de observarmos a perspectiva de desenvolvimento endógeno, que passa pela utilização das línguas maternas dos povos, contrariamente à actual unicidade do sistema educativo angolano, que trata por igual aquilo que é diferente; "Não podemos continuar a ensinar só em língua portuguesa àqueles alunos que têm uma outra língua materna. O nosso maior problema é pensarmos que não termos uma lógica de complementariedade e pensarmos que temos de estar numa lógica de exclusão.
Então pensamos erradamente que a introdução das línguas africanas de Angola no ensino ou na sociedade, só tem um sentido folclórico no telejornal da manhã.”
Filipe Zau concluiu dizendo que "a lógica não deve ser de exclusão, não deve continuar a ser diglossia, mas de bilinguismo”.
Na próxima Conversa da Academia à Quinta-feira, agendada para o dia 10 de Novembro, a partir das 19 horas, sob moderação do sociólogo José Octávio Va-Dúnem, será conferencista o sociólogo Paulo de Carvalho, que falará sobre "Desenvolvimento humano em Angola”. A participação via Zoom será livre.