Saúde
17 Maio de 2021 | 16h47

Casos de má nutrição abarrotam hospital de São Pedro

O aumento de casos de má nutrição está, actualmente, a abarrotar o Centro de Nutrição Terapêutico do Hospital de São Pedro, no município da Catumbela, levando à partilha de camas entre os pacientes, apurou a ANGOP.

Este centro de recuperação nutricional, que tem capacidade para internar apenas 55 crianças, passou a assistir em regime de internamento cerca de 100 pacientes, o que continua a provocar a sua sobrelotação.

Falando à imprensa, a responsável desse centro, Leonor André, lamenta a situação e aponta o dedo às dificuldades económicas das famílias pelo aumento dos casos de crianças malnutridas no município da Catumbela.

Pese embora reconheça que a situação deixa a unidade num caos, Leonor André diz, contudo, disse que a partilha de cama por duas ou mais crianças é a alternativa encontrada, isto porque o centro não tem como mandar os pacientes de volta para casa.

Além da perda do poder de compra, com o impacto da Covid-19, Leonor André vê o desmame precoce e as gravidezes subsequentes (por falta de planeamento familiar) como factores que agravam a procura dos serviços do Centro de Nutrição Terapêutico.

Contudo, adiantou que o tratamento de uma criança malnutrida leva, em média, 21 dias, se bem que, como salientou, há quem fique mais ou menos tempo na unidade, dependendo do diagnóstico.

Relativamente ao tratamento, explicou que, logo à chegada ao centro, as crianças tomam o leite F75 e, na fase posterior, o leite F100, que são fórmulas específicas para tratar a má nutrição.

"Quando recebem alta, vão para o ambulatório e fazem o arroz fortificado, um suplemento nutricional”, disse, aproveitando para aconselhar às mães a amamentar exclusivamente até aos seis meses, antes de darem alimentos ricos em vitaminas e sais minerais.

Há mais de três semanas internada com uma criança com má nutrição, a utente Esperança Manuela queixa-se dos constrangimentos provocados pela partilha de camas, já que, a seu ver, pode provocar outras doenças às crianças.

Entretanto, para mudar o cenário actual, o governo provincial de Benguela estuda a possibilidade de executar obras de ampliação do referido centro, dada a existência de um terreno para esse efeito nas proximidades.

A má nutrição ocorre quando uma pessoa não recebe nutrientes adequados da dieta. Isto causa dano aos órgãos vitais e às funções do corpo. A falta do alimento é a maior causa da má nutrição nos países em vias de desenvolvimento mais deficientes.

De acordo com o Relatório Global 2020 sobre Crises Alimentares, a má nutrição crónica atinge 30 por cento das crianças com menos de cinco anos em Angola e 43 por cento das crianças com a mesma idade em Moçambique.

O documento, divulgado pelas Nações Unidas, apresenta os países da África Austral onde vivem mais crianças com menos de cinco anos que são cronicamente malnutridas, um "ranking" liderado pela Tanzânia (45%), seguindo-se Moçambique (43%), Madagáscar (42%) e República Democrática do Congo (42%) e o Malawi (37%).

Segue-se a Zâmbia (35%) e o Lesoto (34,5%), Angola (30%), Suazilândia (26%) e Zimbabué (24%).

Segundo este relatório, apenas 28% das crianças com menos de cinco anos em Moçambique e 33% em Angola têm uma alimentação minimamente diversificada para o seu crescimento e desenvolvimento.

Nesta região do continente africano, mais de 30 milhões de pessoas em 11 países (Angola, República Democrática do Congo, Suazilândia, Lesoto, Madagáscar, Malawi, Moçambique, Namíbia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabué) enfrentaram uma crise e níveis de insegurança alimentar aguda.

Fonte: ANGOP