Entrevistas
02 Abril de 2022 | 11h10

Cunene “recupera dos efeitos da seca severa”

Nos últimos meses choveu razoavelmente, o que permitiu o arranque efectivo da campanha agrícola, o que faz renascer a esperança das famílias camponesas.

Em véspera da visita a província do Cunene, do Presidente da Republica, João Lourenço, a governadora Gerdina Ulipamue Didalelwa fala de um povo resiliente, a recuperar-se, paulatinamente, dos efeitos da seca

severa, depois de algumas chuvas razoáveis nos últimos meses. A governadora refere-se, também, ao apoio estatal as pessoas que regressam da Namíbia e permanecem no centro de acolhimento de Calueque e de outros projectos sociais e económicos.

 

O Presidente da República visita o Cunene pela terceira vez, em menos de um ano. Que Província vai encontrar?

Antes de mais, permitam-me agradecer a oportunidade que me proporcionaram, para através do Jornal de Angola, tecer algumas considerações sobre a nossa província.

Quero dizer que é sempre com imensa satisfação que temos, uma vez mais, a honra e o prazer de receber o Presidente da República no Cunene. Vai encontrar uma província em marcha, com o seu povo, de alguma forma resiliente, a recuperar-se, paulatinamente, dos efeitos da seca severa, por ter chovido, razoavelmente bem nos últimos meses, o que permitiu o arranque efectivo da campanha agrícola, que estava, praticamente, perdida.

Vai encontrar, por isso, uma população bem animada, pois vê as suas esperanças redobradas, com a conclusão do Projecto Canal do Cafu concluído, o andamento das obras do Hospital Geral de Ondjiva, da Centralidade de Ekuma e outros projectos.

 

A seca prolongada no Cunene colocou a província no centro das preocupações, quer do Governo central, como local. Qual é a situação, relativamente as pessoas afectadas e programas de intervenção para mitigar crise?

A situação actual é caracterizada pela existência de 514 mil 855 pessoas afectadas, o que corresponde a 102 mil 206 famílias. Das 2.619 pessoas, que se tinham refugiado, na Namíbia, 1.888 já se encontram de regresso ao país, estando alojadas, no Centro de Acolhimento do Calueque, município de Ombadja, onde desenvolvem actividades agrícolas, em campos, previamente, preparados, com o apoio do  Executivo e do Governo Provincial do Cunene. Temos a assinalar a disponibilização de um tractor, dez moto cisternas e sementes diversas. Estes deslocados regressarão às zonas de origem, faseadamente, mediante um programa que vigorará por um período de seis anos.

 

Que medidas de curto, médio e longo prazos existem, para mitigar a situação?

Para a mitigação desta situação, o governo provincial, em conjugação de esforços com o Executivo, tem mobilizado apoios em bens alimentares  destinados às vítimas, tanto para os que estão no Centro de Acolhimento do Calueque, como nos outros municipios.

 

Até que ponto a transferência de água do caudal do Cunene pode acabar, definitivamente, com a quase crónica falta de alimentos?

Os canais a serem construídos, tanto do Cafu, como os demais já projetados, incluindo as chimpacas e barragens, terão a jusante , terras férteis, que serão, devidamente loteadas e distribuídas, em função da capacidade produtiva dos interessados, para viabilizar   a produção de alimentos, de largo consumo, na província, sobretudo cereais e hortícolas, Estamos certos de que se todos colaborarem neste processo, muito rapidamente reduziremos a fome, na nossa província.

 

Que apoios concretos o governo provincial presta à agricultura familiar?

Na verdade, o governo provincial concede a este sector vários apoios. Para lhe dar exemplos concretos, no presente ano agrícola foram disponibilizadas vinte toneladas de sementes de massango; dez de massambala e vinte e cinco de  feijão.

Paralelamente a esses apoios, existem outros, que consistiram no treinamento das famílias, sobretudo as organizadas em associações, sobre a preparação de terras, bem como na formação de tratadores de gado, alem de tractores, usados na preparação de 5 mil 300 hectares de terras, para lavras familiares.

 

Qual é a visão do governo provincial sobre a actividade das grandes unidades agrícolas, relativamente, aos programas de combate à seca, fome e pobreza. Estaria disponível a adquirir toda a produção das fazendas, para distribuir às populações afectadas pela seca?

De facto, actualmente existem, no Cunene, grandes unidades de produção agrícola, sobretudo as localizadas nos corredores da Canganda e do Calueque. Neste caso, o governo tem mobilizado recursos financeiros do orçamento alocado à província, mais propriamente, no âmbito das despesas de apoio ao desenvolvimento, que emprega na aquisição de cereais, sobretudo milho, massango e feijão, para distribuição às famílias afectadas.

Portanto, a aquisição é feita de acordo com as necessidades concretas, mediante a disponibilidade de recursos financeiros o que tem permitido criar  alguma reserva alimentar.

 

Que tipo de acções existem, para a melhoria das vias de acesso às áreas de produção agrícola e facilitar o escoamento de bens?

As vias de comunicação, como se sabe, jogam um papel relevante e impulsionador, para o desenvolvimento das regiões. Essas vias, e aqui falo, concretamente, do Xangongo/Calueque e Xangongo/Canganda, são de subordinação central e estão paralisadas, por razões ligadas a falta de recursos financeiros.

 

Qual é o programa do Governo, para a abertura ou melhoria das vias de acesso, para as áreas de difícil acesso, como Chiedi, Oshimolo, Calonga, Chitado e outras zonas mais críticas?

Em relação à abertura ou melhoria de vias de acesso a essas localidades, devo dizer-lhe que a situação é idêntica as obras de subordinação central, ou seja faltam recursos financeiros à

implementação desses projectos. Entretanto, com os recursos financeiros do PIIM (Programa Integrado de Intervenção nos Municípios), as Administrações Municipais efectuam intervenções pontuais em algumas vias, como é o caso da estrada Namacunde –Chiedi, que foi recentemente terraplanada.

 

Que acções o governo promove, para aliviar os encargos das empresas agricolas, nos domínios dos combustíveis e lubrificantes e de  advocacia junto dos bancos, para o acesso ao crédito?

Neste domínio concreto, a estratégia do governo provincial, em colaboração com os orgãos afins do Executivo, consiste em levar a energia às zonas onde se localizam as principais fazendas produtivas, procurando, desta forma, reduzir estes encargos, que reconhecemos, tem sido um processo bastante oneroso.

De igual modo, o governo provincial tem feito advocacia notável junto de Instituições financiadoras, no intuito de os nossos empresários terem acesso à créditos. Assim, trinta projectos foram financiados no âmbito do PRODESI, sendo doze produtores e operadores de comércio e distribuição e dezoito cooperativas.

 

Que acções existem, para a criação de unidades industriais, na província?

Na província do Cunene, não existe qualquer actividade industrial de relevo. Apesar deste quadro, decorrem estudos, no sentido de se criarem condições, para o fomento de pequenas e médias indústrias transformadoras de produtos agrícolas e pecuários. Outrossim, pensamos, também, na atracção de investidores, para a exploração de recursos minerais, nos municípios do Curoca, Cahama e Cuvelai.

 

Qual é a estratégia, para a atracção de investidores nacionais e estrangeiros para o Cunene?

Neste capítulo, pensamos na divulgação das potencialidades da nossa província, na celebração de acordos de cooperação, no âmbito interno e externo, na base da legislação em vigor. Para isso, contamos, também, com a contribuição da Câmara de Comércio e Indústria do Cunene e na cooperação com as províncias vizinhas.

 

Estivemos no Curoca. A situação social e económica é extremamente grave. Além da seca e fome, as vias de acesso estão quase intransitáveis. Pergunto se há alguma atenção especial, para essa área?

Nós reconhecemos que o quadro socioeconómico do Curoca (sem deixar de parte os demais municípios) é de extrema gravidade. Porém, esta deve merecer por parte de todos (Governo Provincial, Central e de toda a sociedade em geral), particular atenção.

Precisamos todos nós de conjugar esforços, com vista à materialização de projectos e acções, já previstas, que impulsionem e catapultem actividades produtivas. Neste caso, refiro-me à melhoria das vias de acesso, para permitir maior e melhor fluidez e aderência aos serviços.

 

"Existem mil e cento e setenta e nove enfermeiros e cento e trinta e quatro técnicos de diagnóstico terapêutico”


Como é que está o Sector Social da província, a começar pelas infra-estruturas escolares e sanitárias (disponibilidades de salas, professores, hospitais, centros e postos de saúde, necessidades, etc.)?

Este é um dos sectores nevrálgicos na vida das populações do Cunene. Destacamos, sobretudo, os sectores da educação e saúde, de forma sumária.Temos na província oitocentos e trinta e oito escolas, para 195 mil 274 alunos matriculados, distribuídos pela iniciação, ensino primário, I e II ciclos, no presente ano lectivo. Temos disponíveis 6 mil 229 professores. Entretanto, precisamos de mais 270 novas escolas, para acudir 34 mil 862 crianças que ainda estão fora do sistema de ensino.

No Sector da Saúde, a província possui oito hospitais, incluindo o geral (alternativo), já que o principal está em construção, quarenta e um centros de saúde, um centro materno-Infantil, cento e oito postos de saúde, totalizando cento e cinquenta e oito unidades sanitárias.O número de camas é de 1.656, no total.

A província possui cento e vinte e tres médicos, dos quais cinquenta e um encontram-se dispensados, para a especialização em diversos hospitais e escolas no país. Existem mil e cento e setenta e nove enfermeiros e cento e trinta e quatro técnicos de diagnóstico terapêutico, em toda a província. O quadro ainda e preocupante, pois, precisamos de mais técnicos a este nível.

A província necessita de médicos especialistas em todas as áreas, com maior destaque para Intensivistas; Oncologia; Cirurgia; Ortopedia; Estomatologia; Oftalmologia; Imagiologia e Pediatria, bem como equipamento de TAC) e mais aparelhos de RX.

 

Como é que a província se preparou, para se tornar auto-suficiente, nos domínios da energia e água?

Quanto a este sector importante, devo dizer que a cidade de Ondjiva, Santa Clara e a Missão Católica de Omupanda beneficiam do fornecimento de energia eléctrica, a partir da República da Namíbia, juntando-se-lhes um módulo de três geradores eléctricos montados, na cidade capital provincial.

Nesta altura, há apenas a disponibilidade de 13,5 MW, o que é manifestamente insuficiente, pois são necessários mais 24 MW. A vila de Ombandja beneficia do fornecimento de energia eléctrica da central híbrida, com cinco MW. Essa central precisa de baterias acumuladoras, para aumentar a capacidade de geração de energia, cujo excedente beneficiaria, por exemplo, um dos corredores de produção agrícola do município.

As localidades de Calueque, Ruacaná e Chitado recebem energia eléctrica a partir da República da Namíbia. Os restantes municípios, mais concretamente as suas sedes, abastecem-se de geradores eléctricos. Por conseguinte, e em bom rigor, ainda não somos auto suficientes neste domínio. Precisamos de mais MW, para satisfazer a demanda, que é cada vez maior.

 

Para quando a introdução de novos cursos, no Instituto Politécnico de Ondjiva e seu alargamento?

Neste momento, já decorrem obras de ampliação do edifício. Serão construídas mais sete salas de aula, uma área administrativa e a reabilitação de vinte e duas casas para professores. Uma vez terminadas as obras, em curso, seguir-se-á o processo de definição da introdução de outros cursos, situação para a qual já existem ideias.

Fonte: JA